terça-feira, 23 de junho de 2009

Estudante de jornalismo diz: "Mamãe, eu quero!" Professor responde: "Não!"

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Hoje no...



DIPLOMA (DES)NECESSÁRIO [aspas da PressAA]


Mamãe, quero ser advogado-jornalista-engenheiro-palpiteiro

Por Admilson Veloso* em 23/6/2009


"A profissão não depende de um conhecimento técnico específico. A profissão de jornalista é desprovida de técnicas." Com este argumento, a advogada do Sertesp (Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão no Estado de São Paulo), Taís Gasparian, justificou a necessidade de se acabar com o diploma de jornalista em votação que aconteceu nesta quarta-feira, 17 de junho, no STF (Supremo Tribunal Federal).

Para conhecimento desta senhora, os estudantes de Jornalismo não passam quatro anos em uma universidade apenas aprendendo técnicas, por isso o curso é de graduação, e não tecnológico. Além disso, se realmente são as técnicas que têm importância, como ela tanto enfatizou para acabar com o nosso diploma, gostaria que ela produzisse, sem nenhuma orientação prévia, apenas três itens da nossa profissão: uma lauda de TV nos moldes tradicionais, onde conste a cabeça, um teaser, offs e a passagem; quero também uma grande reportagem para impresso com, no mínimo, 10 fontes, duas fotos em grande angular, um box e pesquisas de arquivo; e, ainda, um texto para a internet com três hiperlinks de meio de texto. Tudo bem, essas questões podem até ser absorvidas por um advogado, médico, engenheiro ou por alguém que nunca sentou em um banco de uma universidade, mas nenhuma profissão se limita às técnicas. E, durante o meu tempo de redação, que não é tão extenso assim, não encontrei nenhum desses profissionais querendo dizer algo de extrema importância e que não tenha obtido espaço, para chegar a esse nível de querer ocupar a nossa cadeira.

Tentativa de desmoralização

Outro ponto que considero relevante nas discussões realizadas no STF para justificar a extinção do diploma foi a fala do ministro Ricardo Lewandowski: "Esse decreto é mais um entulho do autoritarismo da ditadura militar que pretendia controlar as informações e afastar da redação dos veículos os intelectuais e pensadores que trabalhavam de forma isenta." Gostaria de informar este cidadão que qualquer pessoa pode escrever em um jornal, desde que tenha conteúdo ou a sua produção seja de interesse público. Se algum intelectual tem interesse em ser jornalista, pode prestar vestibular em uma instituição de ensino superior e cursar Jornalismo. Caso queira escrever periodicamente, em primeira pessoa, pode se tornar colunista. Não há impedimento para a livre expressão só pelo fato de os profissionais serem formados. E tem mais: o papel de um jornalista, a priori, não é emitir opinião, mas informar. Isso não sofre interferência negativa alguma das escolas superiores de comunicação.

Meus caros ministros do STF e demais membros da sociedade brasileira, o que se defendeu, na verdade, com a extinção da exigência do diploma de jornalista no Supremo Tribunal Federal, foi o direito de os magnatas da comunicação no Brasil, em sua maioria políticos, articularem mais facilmente suas tramas, já que os profissionais, geralmente, não são coniventes com determinadas atitudes e acabam demitidos por não concordarem com tais práticas. Essa medida é, em primeiro lugar, uma tentativa de desmoralização da profissão para que a gente não incomode tanto. Gostaria só de saber quais foram os profissionais de Engenharia, Medicina, Direito e demais áreas que queriam/querem tanto ser jornalistas, já que este foi um dos argumentos do STF. Onde estavam eles, que não foram protestar por este direito? Se realmente querem, formem-se jornalistas e não engenheiros, médicos ou seja lá o que for.

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=543DAC033


*Admilson Veloso é estudante de Jornalismo, Belo Horizonte, MG


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DIPLOMA DESNECESSÁRIO

Contra a obrigatoriedade, a favor de regulamentação

Por Maurício Stycer* em 23/6/2009

Reproduzido do blog do autor, 18/06/09

Dou aulas de jornalismo, de forma não contínua, desde 1994. Já passei por cinco faculdades diferentes. Ao longo do tempo, adquiri algumas certezas e muitas dúvidas sobre a necessidade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão de jornalista.

Tento a seguir ordenar alguns argumentos e questões sobre o fato.

1. O que é preciso saber e aprender para ser jornalista? É uma questão polêmica. Há alguns consensos: é preciso ter cultura geral e domínio total da língua portuguesa. Conhecer história é fundamental. Matemática e estatística são conhecimentos necessários. Ética. Direito. É preciso ter o hábito de ler jornais e revistas, ter gosto pela informação. Ter espírito crítico, ser capaz de compreender a realidade em que vive, é outro atributo obrigatório.

2. Onde adquirir os conhecimentos citados no tópico anterior? Começa em casa, prossegue na escola básica, depois na secundária e, finalmente, na faculdade. Qual faculdade?

3. Você não precisa cursar uma faculdade de jornalismo para aprender nada disso.

4. Quais são os conhecimentos específicos necessários para ser jornalista? Entramos aqui no terreno da técnica. Não são muitos. Desafio alguém a defender a necessidade de mais do que dois anos de estudos para adquirir conhecimentos específicos da profissão, tais como técnicas de entrevista ou técnicas de redação voltadas para diferentes mídias.

5. Pessoalmente, acredito que um ano, com uma oferta de cursos bem articulada, cumpra bem esta função de transmitir conhecimentos específicos da profissão. Mas admito pensarmos até em dois anos. Mais que isso é embromação.

6. Discordo do meu amigo Leandro Fortes, para quem o diploma de jornalismo defende "milhões de brasileiros informados por esquemas regionais de imprensa, aí incluídos jornais, rádios, emissoras de TV e sites de muitas das capitais brasileiras, cujo único controle de qualidade nas redações era exercido pela necessidade do diploma e a vigilância nem sempre eficiente, mas necessária, dos sindicatos sobre o cumprimento desse requisito". Na minha opinião, não é o diploma que defende o público dos manipuladores de notícias, mas a concorrência. Sem concorrência, como é o caso em grande parte do país, a imprensa de má qualidade prospera – e continuará a prosperar – com ou sem diploma para jornalista.

7. Meu amigo Ricardo Kotscho preocupa-se com outra questão importante. Tudo bem, acabou a obrigatoriedade do diploma. Mas, e agora? Concordo que não podemos, de fato, ficar numa espécie de terra de ninguém, sem algum tipo de regulamentação.

8. Defendo, para início de discussão, que a prática só seja permitida a pessoas com formação universitária (em qualquer área, inclusive jornalismo), mais um curso de especialização técnico.

9. Diante da inquietação que vejo hoje, 18 de junho de 2009, em blogs e Twitter, arrisco dizer: o fim da obrigatoriedade do diploma não dificultará a inserção no mercado de trabalho dos bons candidatos, formados em faculdade de jornalismo.

10. As dificuldades de inserção do mercado decorrem de outros problemas, que não vou discutir aqui, mas são notórios: a transformação do ensino de jornalismo numa indústria, a crise da imprensa e a crise econômica.

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=543DAC002

*Maurício Stycer é jornalista e professor de jornalismo


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PressAA

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