sexta-feira, 31 de julho de 2009

Overdoses de Tamiflu, telejornais e Jornalões




Gilda Arantes - correspondente da AAA- PressAA no Rio de Janeiro

Antes de ler esta matéria, assista a esse vídeo e tire suas próprias conclusões.

Dr Leonard Horowitz fala sobre Vírus A fabricado em Laboratório
http://www.youtube.com/watch?v=0K2LdGUca9w
Legendado

MELHOR VACINA CONTRA A GRIPE É NÃO LER JORNAIS BRASILEIROS E NÃO ASSISTIR AOS CANAIS BRASILEIROS DE TELEVISÃO [EMPRESA COMERCIAL].


Conceição: Devo me preocupar?












Khaia Mhaya - Linguista

Aliás, o seguinte: li num jornal da Bahia (A Tarde, em http://www.atarde.com.br/cultura/noticia.jsf?id=1197132), ontem, que aquela CHATÍSSIMA não-sei-o-quê Anemberg, que apresenta o Jornal Hoje, estaria com a gripe.

ACHO QUE A REDE GLOBO DEVE FECHAAAAAAAAAAAAAAAAR TUDO, GERAL, COMPLETAMENTE, né-não?
Já pensaram se toooooooooooooodos os globais ficam doentinhos, da gripe que eles inventaram?

Já pensaram? Uma semana sem Globo, no Brasil?! Não seria lindo?!
Seria, sobretudo, muito 'preventivo', né-não?!

Vocês estão vendo como é o negócio do tal de "fato jornalístico" à moda do jornalismo que desgraça o Brasil-2009?

Que fato haveria em "morreram 20, todos com a gripe H1N1", em manchete que NÃO INFORMA que essas mortes morreram por causa de um terremoto que detonou o hospital onde esses doentes estavam internados?

Pergunto e respondo: NÃO HÁ FATO ALGUM em "morreram 20, todos com a gripe H1N1".

E NINGUÉM informou sobre coisa alguma a seja quem for.

Na vida real – que jamais aparece no fato jornalístico –, o que está acontecendo hoje é que NINGUÉM está informando objetivamente sobre coisa alguma, pela suficiente razão de que TODOS estão informando DEMAIS... sobre NADA.

Por exemplo: quantos morreram no mundo, ontem, por efeitos da desnutrição crônica? Taí. Ninguém informou 'fato' algum sobre isso. Então... tudo se passa como se não tivesse morrido ninguém, ontem, por efeitos da desnutrição crônica... 'porque' ninguém desenhou o infográfico das mortes por efeito da desnutrição crônica nem nenhum jornalismo 'informou' sobre esse fato.

Estamos presos na arapuca 'jornalística': dado que TODOS falaram DEMAIS sobre a gripe, criou-se uma situação na qual ou TODOS continuam falando sempre sobre o mesmo nada (o que dá ao NADA status de 'fato'!) ou TODOS terão COMPROVADO que TODOS falam DEMAIS sobre assuntos TOTALMENTE sem importância alguma. ISSO é o jornalismo que desgraça o Brasil-2009.
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From: Ana Santana
To: PressAA
Subject: Conceição, devo me preocupar?

Travarei essa conversa publicamente, com a Conceição Lemes, jornalista especializada em Medicina e Saúde, com o objetivo de esclarecer os leitores.

Quero saber dela se devo me preocupar pelo fato de que pessoas próximas foram contaminadas pelo vírus da gripe suína. O relato aproximado de uma das pessoas é o seguinte:

"Primeiro foi minha irmã. Ela teve gripe durante quatro dias e começou a passar mal. Outra irmã, que é enfermeira, sugeriu que ela procurasse as autoridades para fazer o teste. Deu positivo. Ela teve febre alta, entre 39 e 40 graus. Em casa também pegaram gripe minha mãe e meu filho. Nos primeiros dias choramos todos. Achávamos que era morte certa. Estávamos impressionados com o que aparecia na televisão. Ficamos isolados dos vizinhos e amigos, usando máscaras e sob monitoramento de autoridades da saúde. Ficamos duas semanas em isolamento completo. Meu filho e minha irmã tomaram Tamiflu. Minha mãe, não. Minha mãe e minha irmã tossiram muito. Minha mãe chorava por causa de dor no peito. Ficamos todos muitos impressionados. O clima, no início, era de velório. Mas então fomos nos recuperando. Tive de ir à faculdade, fazer prova. Quando cheguei, o inspetor não queria me deixar entrar na sala-de-aula. A faculdade tinha sido avisada sobre minha família. Assim que terminei a prova, fui mandada de volta para casa. Não sei o que foi pior, se a gripe ou o susto. Minha irmã pegou a gripe do patrão. A família dele é de fora do Brasil. Ele tentou se internar no hospital Emílio Ribas, não conseguiu vaga e resolveu ir embora do Brasil. Não voltou ainda."

“A gripe suína matou 63 pessoas no Brasil, sendo 50% das vítimas de São Paulo e 33% do Rio Grande do Sul.”

http://www.viomundo.com.br/opiniao/conceicao-devo-me-preocupar/


Conceição

Em resumo, Azenha. Nada de pânico. O que a gente tem de fazer é prevenir a gripe – suína ou sazonal. Por exemplo, lavando frequentemente as mãos com água e sabonete. Se apesar das medidas preventivas, os sintomas de gripe aparecerem, procurar o seu médico – de convênio, particular, posto de saúde, etc. –, para que ele avalie-o. O tratamento da gripe suína é igual ao da gripe comum. E mesmo que seja a Influenza A, na imensa maioria dos casos, os sintomas são leves e dispensam o uso de antiviral. São as recomendações do Ministério da Saúde.


Conceição Lemes (30/07/2009 - 23:02)
Clóvis,


Só mais uma: você diz que conhece "uma pá de médicos que tá aterrorizado (e nenhum deles é ignorante)."

Desculpe lhe dizer: esses médicos estão MUITO desinformados.

Provavelmente estão se atualizando pela mídia corporativa. Te garanto: se tivessem buscado informação no lugar certo – por exemplo, protocolo de atendimento para pacientes com suspeita de gripe suína do Ministério da Saúde – , eles estariam dando à nova gripe a dimensão real, em vez de ver criar fantasmas.

Já pensou como estão os pacientes desses médicos? Tenho pena deles. Dos pacientes, claro

Você pergunta: "Como se o Serra e a Yeda estivessem deixando as pessoas morrerem intencionalmente para poder criticar o Lula?"

De onde você tirou essa ideia? SE o Serra e Yeda estivessem deixando as pessoas morrerem intencionalmente, eles tinham que ir pra cadeia.

O que a mídia queria era mostrar que a situação no país estava fora de controle, para atingir o governo federal, e com isso diminuir os holofotes sobre os óbitos de SP principalmente.

Conceicao Lemes (30/07/2009 - 22:42)
Clóvis,

Acho que você está vendo coisas. O que o Azenha fez foi simplesmente colocar os números de óbitos. É um fato. Aliás, o Rio Grande do Sul é o estado que todo ano tem o maior número de óbitos por causa de gripe e doenças associadas (pneumonia e bronquite).

Na reportagem em que eu denunciei a Folha, eu coloquei uma hipótese para para números estratosféricos: a mídia tirar o foco do SP e RS, que já tinham maior numero de casos, e jogar no Governo Federal, como se a situação estivesse fora de controle. Essa era intenção. Só que como a Folha foi desmascarada, a estratégia foi por água abaixo. Agora, o que sobra é a realidade. E a realidade é haver mais óbitos nos estados do sul.

É estupidez, é mesquinhez, é canalhice querer que morram mais pessoas, só para ferrar governo x ou y. Quem faz isso é o PIG [Facção do Partido da Imprensa
Golpista
]– o tempo inteiro. Saliva de prazer. Nós, aqui, de jeito nenhum.

A nossa batalha, cara, é pela vida. Viva a vida!

Conceição Lemes (30/07/2009 - 21:58)
Azenha,

Tem outra coisa lamentável: a postura de alguns médicos famosos, que o tempo inteiro estão na mídia, mas que numa hora como essa, convenientemente "desaparecem".

Se tivessem, de fato, preocupação com a saúde pública, o que você esperaria deles? Eu, pelo menos, esperaria que viessem a público e usassem o seu prestígio para colocar os pingos nos is para a população. Até porque tem espaço garantido em rádios, TVs e jornais.

Em vez disso, preferem fazer o jogo da mídia corporativa, se calando covardemente. Afinal, são pagos por ela para fazer colunas de jornal, programas de TV. Leva, quem paga mais. E a sociedade que se lixe.

Isso já havia acontecido na febre amarela. E se repetiu, agora, de novo.

Conceição Lemes (30/07/2009 - 21:36)
Azenha,

Quase todo ano a gente tem uma gripe. Você fica preocupado com ela? E você, leitore? E o inspector citado no seu relato, será que a faculdade onde ele trabalha dispensa-o quando tem a gripe anual?

Não é preciso bola de cristal para saber que as respostas são NÃO, NÃO E NÃO.

Pois bem, considerando que a gripe suína tem comprovadamente gravidade semelhante à gripe normal, não tem por que você se alarmar, se apavorar. E, aí, não é achismo meu. É a opinião de instituições e especialistas sérios, compententes.

Só que do jeito que a mídia disseminou o pânico e continua a cobrir a gripe suína parece que ela equivale à sentença de morte. O QUE É UMA GRANDE MENTIRA.

Pior é que a mídia ainda se acha prestando serviço à coletividade, quando, na verdade, é um desserviço completo. É um crime contra a saúde pública.

Já pensou o quanto toda a sociedade ganharia se, em vez desse terrorismo, a mídia gastasse esse tempo para educar, informar de forma adequada?

De cara, o patrão que foi embora do Brasil porque não conseguiu vaga no Emílio Ribas, nem teria saído da cidade. A família que ficou dias à espera da morte, teria aproveitado melhor o tempo que ficou em casa, para colocar a conversa em dia, ler, fazer algo de útil. Isso sem falar no estigma que ela vai carregar pelo resto da vida. Já estou até vendo a vizinhança, cochichando. Lamentável.


Luiz Carlos Azenha (30/07/2009 - 19:01)
Meu caro Clóvis, quem disse que não acho que existe terrorismo midiático? A família acima citada pensou que estava condenada à morte por acreditar no que saia na TV.

Clóvis (30/07/2009 - 18:51)
Peraí, até ontem não era terrorismo midiático? Agora perceberam as mortes em estados governados pelo PSDB e resolveram aderir? Só podem estar de palhaçada... Azenha eu botava mais fé na sua imparcialidade (detalhe não sou eleitor do PSDB, mas isso é botar nariz de palhaço em quem tentava acreditar em um mínimo de seriedade!)

Talvez seja interessante levantar que são 2 estados com frio intenso este ano e muito populosos!

[A rede castorphoto é uma rede independente tem perto de 33.000 correspondentes no Brasil e no exterior. Estão divididos em 20 operadores/repetidores e 170 distribuidores; não está vinculada a nenhum portal nem a nenhum blog ou sítio. Os operadores recolhem ou recebem material de diversos blogs, sítios, agências, jornais e revistas eletrônicos, articulistas e outras fontes no Brasil e no exterior para distribuição na rede]



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PressAA
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quarta-feira, 29 de julho de 2009

Democracia racial é a mãe!

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PROFESSOR DA UNB DIZ QUE DEM QUER NEGROS FORA DA UNIVERSIDADE

















“Para o professor José Jorge de Carvalho, que junto com a professora Rita Lauro Segatto, ambos do Departamento de Antropologia da Universidade de Brasília (UnB) elaborou a proposta de política afirmativa, a ação do DEM - que pede a suspensão do sistema de cotas na Universidade - é uma repetição do Manifesto dos 113 enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), em 30 de abril do ano passado, e assinado por um grupo pequeno que tem acesso à mídia. A ação, segundo ele, apresenta argumentos frágeis.

Eles (o partido Democratas e quem assinou o Manifesto dos 113) estão querendo jogar na rua um contingente de mais de 20 mil estudantes, critica José Jorge de Carvalho afirmando que a ação no STF é uma tentativa de ganhar no “tapetão”.

“Eles estão dizendo que 90 universidades (onde há política afirmativa) vão ter que jogar para fora todos os estudantes que entraram e não deixarão entrar nunca mais nenhum deles?” pergunta.

“O universo acadêmico brasileiro está em uma luta para incluir os negros e os indígenas que estiveram excluídos sempre. Como eles não conseguem mais influenciar na decisão sobre o processo de inclusão, eles entraram com uma ação no judiciário. No fundo eles não querem negros na universidade”, acusa o professor.

RACISMO INSTITUCIONAL

O antropólogo afirma que o processo de cotas é um dos mais revolucionários na universidade brasileira. "As universidades funcionaram durante 70 anos, de 1930 ao ano 2000, totalmente segregadas. Há poucos países no mundo que tem um universo tão racista quanto o nosso, avalia. Não que exista lei para que os negros estejam fora, mas eles estão fora (da universidade). O racismo estrutural e o racismo institucional fazem que eles estejam fora.

Para o antropólogo, a crítica socioeconômica contra as cotas é falha, assim como o argumento de que a análise dos pedidos é subjetivo. Se nós fizermos um recorte de renda as pessoas podem falsificar o comprovante de renda. Se fizermos um recorte por origem na escola pública as pessoas também podemos falsificar, aponta.

Toda política pública tem uma margem de erro. A comissão que analisa os cotistas é uma comissão formada por pessoas da sociedade, do movimento negro, por professores e estudantes. Ela é tão idônea como qualquer outra comissão jamais feita no Brasil, defende José Jorge de Carvalho, acrescentando que se for para discutir a idoneidade dessa comissão, tem que discutir a idoneidade de todas as comissões. Tem então que parar com o Bolsa Família para que não haja fraude no programa, argumenta.”


FONTE: matéria da Agência Brasil, publicada no site “Vermelho” em 28/07/2009
Postado por Política às 08:22


http://democraciapolitica.blogspot.com/2009/07/professor-da-unb-diz-que-dem-quer.html



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Em 16 julho, Henry Louis Gates Jr., um dos mais conhecidos professores dos EUA, titular da cadeira de estudos afro-americanos
em Harvard, grande especialista da história do racismo e da segregação racial, foi preso na porta da sua casa, como um vulgar bandido,
por um policial branco do comissariado de Cambridge, Massachussetts.
Ele prometeu tirar todas as consequências desta lição. "Farei um documentário sobre isto, ele jurou. O sistema de justiça penal é realmente podre.


Para ouvir o outro ladoEUA: Intelectual 'pós-racial' grita "Racistas"?

Ishmael Reed[1], Counterpunch

Agora, depois de Henry Louis 'Skip' Gates’ Jr. ter experimentado na pele uma pequena gota do que os negros pobres vivem diariamente nos EUA, será que o professor mudará de tom?

Fato é que, mesmo naquele encontro entre professor e policial, a coisa não foi, com ele, como é com outros negros nos EUA. Se um negro, em bairro pobre de qualquer cidade dos EUA, tivesse hesitado ao identificar-se para um policial, ou se respondesse com maus modos ao policial, o mais provável é que o policial chamasse o Comando Especial SWAT.

Oscar Grant, 22 anos, negro, empregado de um açougue, respondeu enviesado a um policial civil em Oakland e foi morto a tiros. Dado o que Gates tem escrito e dito desde o final dos anos 80, se eu fosse o policial que o prendeu, e o professor intelectual pós-racial me acusasse de racista, eu o faria provar o próprio veneno. Teria respondido que "o racismo não existe, professor Gates. Raça é um 'constructo social'" – exatamente o que o professor e seus colegas repetem sem parar a vinte anos.


Será que, depois dessa experiência, Gates vai parar de atribuir os problemas dos que vivem nos bairros pobres ao comportamento "das avós de 35 anos que vivem nas favelas"? (Foi o que Gates disse, quando tentou comparar-se ao ganhador do Prêmio Nobel (1986), Wole Soyinka, como se o caso Gates e o caso Soyinka fossem iguais. Soyinka criticara um ditador nigeriano, foi preso e várias vezes ameaçado de morte.)



[Nota da PressAA, extraída da Wikipédia: Soyinka participou ativamente na história política da Nigéria. Em 1967, durante a Guerra civil nigeriana, ele foi preso pelo Governo federal mantido em confinamento solitário na prisão por suas tentativas de mediar a paz entre os partidos em guerra. Na prisão ele escreveu poemas que mais tarde viriam a ser publicados em uma coleção sob o título Poems from Prison. Soyinka foi liberado vinte e dois meses mais tarde após haver se formado uma conscientização internacional sobre a sua situação. Mais tarde ele recontou a sua experiência no confinamento em um livro: The Man Died: Prison Notes.]

Antes do final dos anos 80, as exortações de Gates ao tratamento 'carinho & linha-dura' [orig. tough love exhortations] visavam ao racismo nos salões acadêmicos. Naquela época, passou a adotar o argumento das intelectuais feministas, segundo as quais o racismo seria problema dos homens negros. Karen Durbin, que o contratou para escrever para The Village Voice, é responsável por ter inventado Gates como "intelectual público". Depois, Gates foi indicado por Rebecca Penny Sinkler, ex-editora de The New York Times Book Review, para escrever sobre autores (homens) negros. Em trabalho sob vários aspectos muito estranho, Gates concluiu alguma coisa próxima de: as escritoras (mulheres) negras são boas, mas não por méritos delas; são boas, porque os escritores (homens) negros são péssimos.

Foi em resposta a um artigo de Mel Watkins, ex-editor do caderno de resenhas, que escrevera para alertar sobre tendência que, então, excitava as caixas registradoras das editoras: livros que se podem descrever como melodramas de segunda, em que mulheres brancas, puras e santificadas eram perseguidas por homens, negros, cruéis e opressores, o tipo de imagem dos irmãos divulgada por Thomas Nelson Page e Thomas Dixon, romancistas confederados. Gates desqualificou vários escritores negros – entre os quais eu –, que acusou de misoginia; falou mal dos meus livros por todos os EUA e pela Europa. Até que Bill Clinton foi apanhado em ato de exploração sexual de uma jovem; Gates, então, disse ao Times que "poria a mão no fogo por esse presidente". Muitas feministas, como Gloria Steinem, por exemplo, também defenderam Clinton, apesar de terem escrito durante anos a fio sobre mulheres que são vítimas de machos chauvinistas com poder – praticamente os mesmos que sempre financiaram a revista Ms.[para conhecer, ver http://www.msmagazine.com/]

Não estou dizendo que retratos de negros devam ser uniformemente positivos – vários dos meus personagens não são exemplo de boa conduta moral –, mas a maioria dos roteiristas de cinema, diretores e produtores brancos que filmam esse tipo de material – e os professores e críticos que o divulgam – nada dizem sobre abuso contra mulheres brancas por brancos. Além disso, Alice Walker, Tina Turner e outras personagens já reclamaram de que, em mãos de roteiristas, diretores e produtores brancos, os negros tornam-se mais sinistros do que nos textos originais.

As apostas são altas, entre os que promovem essa cultura. Atualmente, dois estúdios disputam os direitos de um filme, "Push", sobre um pai negro que engravida a filha analfabeta, no Harlem. Representante de um desses estúdios declarou ao Times que o filme será, para qualquer estúdio que o leve às telas, "uma mina de ouro de oportunidades". Como exemplo do duplo viés sob o qual brancos e pretos são tratados na sociedade norte-americana, praticamente no mesmo momento em que foi publicado o artigo de Gates sobre a misoginia negra, apareceu um artigo sobre escritores judeus norte-americanos: praticamente só autores homens; mencionaram-se pouquíssimas autoras, mulheres. Gates também foi pressionado por ter-se imposto como cabeça do mundo feminista negro; nas palavras da feminista Michele Wallace, por ter querido aproveitar a onda de vendas de estudos sobre o feminismo negro; como Wallace escreveu no Voice, Gates teria problemas não resolvidos com a mãe, já falecida, que, segundo Gates, seria nacionalista negra. As feministas negras quiseram aproximar-se dele. E Gates convidou-as para participar de seu projeto para a antologia Norton. Assim nasceu a Norton Anthology of African American Literature. Uma das editoras foi a professora feminista, já falecida, Dra. Barbara Christian.

Barbara disse-me, reclamando, até quase o dia em que morreu, que ela e a também falecida Nellie Y. McKay, também editora, fizeram todo o trabalho, praticamente sozinhas; e que Gates apenas assinou e colheu as glórias. Esse parece ser padrão de atitude, em Gates: arranjar gente que trabalhe para ele. A revista Mother Jones acusou-o de explorar os escritores que trabalharam sob sua direção na produção da Encarta Africana, por manter quase um campo de tortura acadêmica e por insistir em não contratar negros. Julian Brookes, da revista Mother Jones, escreveu:“Henry Louis Gates Jr. sempre falou muito sobre ação afirmativa. O ilustre professor de Harvard sempre disse que não estaria onde hoje está, sem as políticas de ação afirmativa. Estranho, portanto, que, quando se tratou de organizar a equipe para editar uma enciclopédia da história dos negros, Gates tenha selecionado quase exclusivamente candidatos brancos.

Dos quase 40 redatores e editores que trabalharam em tempo integral para produzir a Encarta Africana, só havia três negros. Pior que isso, Gates e o co-editor K. Anthony Appiah rejeitaram vários pedidos dos redatores para que se contratasse maior número de redatores negros. Mother Jones pediu explicações a Gates, por essa visível inconsistência. Teriam razão, afinal, os membros da equipe, que reclamavam que a equipe de Africana seria branca demais?” Gates respondeu:"Noção repugnante, essa, de que brancos não possam escrever sobre história dos negros – alguns dos maiores especialistas em África são brancos. Sintam-se livres para criticar a qualidade da enciclopédia, mas não cederei um milímetro [a quem critique a organização da equipe]. Estão fundamentalmente errados. Se eu gostaria que houvesse mais afro-americanos no grupo? Claro que sim. Mas fizemos o melhor possível, considerados os prazos e o orçamento."Embora a aliança com as feministas tenha dado considerável empurrão à carreira de Gates, o que o elevou à categoria de intelectual público aos olhos da elite dirigente foi o que publicou na coluna que assinou no Times: que os afro-americanos teriam opiniões antissemitas. Foi então consagrado intelectual afro-americano proeminente, quando, na lista dos intelectuais negros mais conhecidos nos EUA, Gates não apareceria nem entre os 25 primeiros. Deve ter sido selecionado em votação aberta, e beneficiou-se do poder que recebeu de seus patrocinadores, para construir e demolir carreiras acadêmicas. Como diria Quincy Troupe, editor de Black Renaissance Noire, Gates é um desses líderes que "os negros receberam", como doação feita a eles pelos grupos brancos dominantes e pelos brancos progressistas. Amy Goodman fala sobre Gates e Cornel West em termos de adolescente "Bobby Soxer"[2] elogiando Sinatra. Semana passada, Rachel Maddow disse que Gates seria “o principal intelectual negro dos EUA". E quem, rezam os salmos, seria o principal intelectual branco dos EUA, Rachel? Quem disse que só há um? E vale lembrar que Gates não publicou nenhum trabalho acadêmico realmente importante desde 1989.Pela CNN, as acusações feitas por Gates, de que os negros norte-americanos seriam antissemitas espalharam-se por todo o planeta. Por isso, em 2000, quando visitei Israel pela primeira vez, intelectuais israelenses perguntaram-me por que os negros norte-americanos tanto odiavam os judeus. Desmenti as ideias de Gates – sobretudo sua insistência em descrever os negros norte-americanos como grupo homogêneo – em meu livro Another Day at the Front, porque, na época em que ele escrevia como colunista do Times, a Liga Anti-Difamação [ing. Anti-Defamation League] publicara relatório em que mostrava um declínio do antissemitismo entre os negros norte-americanos. Citei o relatório. Gates disse que o Times prometera-lhe outra coluna em que escreveria sobre racismo entre os judeus norte-americanos. Essa coluna jamais foi publicada. Barry Glassner escreveu, com razão, em seu The Culture of Fear [a cultura do medo], que Gates inventou um preconceito dos negros norte-americanos contra judeus que jamais existiu. Quando Tina Brown era editora de The New Yorker, Gates foi contratado para "mastigar e cuspir" o pastor Louis Farrakhan[3] e o falecido dramaturgo August Wilson.A peça de Wilson apareceu depois de um debate entre Robert Brustein e Wilson sobre proposta de Wilson de que se criasse um teatro nacionalista negro. Gates apoiou Brustein. Pouco depois, Brustein e Gates receberam financiamento de um milhão de dólares, da Ford Foundation, para organizar apresentações de teatro seguidas de jantares em Harvard, num momento em que o teatro negro regional vivia à míngua, à beira da extinção. Tina Brown, que já patrocinou Gates, é hoje intelectual pós-racial, como Gates. No programa de Bill Maher, disse que as questões sobre raça saíram de moda, agora que os EUA elegeram um presidente negro. Essa senhora habita uma cidade na qual negros e latinos foram vítimas de limpeza étnica, resultado das políticas do prefeito Giuliani, que reproduz o pensamento do The Manhattan Institute[4]. Milhares de nova-iorquinos negros e hispânicos continuam a ser detidos e presos, sem que se ouçam protestos vindos de Gates e de seu círculo de harvardianos ditos "pós-raciais", como Orlando Patterson. Até o governo Bush sabia que há segregação racial. Pois Gates diz que só depois de ter sido preso entendeu a extensão da segregação, problema já velho, de mais de 200 anos. Como é possível que "o principal intelectual negro dos EUA" não soubesse que há segregação racial nos EUA? Suas palavras ao ser preso, foram, precisamente: "A prisão fez-me ver o quanto os homens negros são vulneráveis, o quanto os pobres são vulneráveis às forças caprichosas de um policial estúpido." Incrível! O "principal intelectual negro dos EUA" em 2009, nunca ouviu falar de Charles Chesnutt, que já escrevia sobre segregação racial em 1905! (...) O que se passa com essa elite pós-racial de Harvard? Outra noite fui assistir ao show de Dick Gregory e Mort Sahl em San Francisco, a última dupla de grandes comediantes dos anos 60. Às tantas, Gregory disse que os netos estudam em tradicionais universidade negras, porque, embora viva perto de Harvard e tenha dinheiro para sustentá-los em Harvard, "nem meu cachorro entra em Harvard." Vai-se ver, sabe do que fala. Quando começou a moda do Poder Gay, Gates também se engajou. Em uma introdução a uma antologia de ensaios pró-gays, Gates escreveu que os gays enfrentam mais discriminação que os negros, nos EUA – afirmativa da qual discorda até Charles Blow, do serviço de estatísticas do Times, o qual, como Patterson e Gates, de Harvard, prega as soluções do "amor e linha-dura", mas só para negros. Recentemente, Blow publicou números que comprovam que na maioria dos casos de crime de ódio nos EUA, a vítima é negra; não usou os mesmos números para comprovar que na maioria dos casos de crimes de ódio nos EUA, o criminoso é homem, jovem e branco. E quantos gays há hoje, no corredor da morte das prisões nos EUA? Que grupo é majoritariamente cortado das listas de candidatos a empréstimos bancários – campo em que os negros têm de pagar bilhões de dólares pela equidade racial? O policial de Cambridge teria criado para dois gays brancos, os problemas que criou para Gates e seu motorista? Por que não discutir as acusações de racismo-gay feitas por Marlon Riggs, Barbara Smith e Audre Lorde? Quantos gays desarmados foram mortos por policiais? E quantos negros? Claro que há bolsões de homofobia entre os negros, mas em menor número do que em outras comunidades étnicas. Os negros esperam ansiosamente a aprovação da lei que permite casamento entre gays, e todos os negros deveriam empenhar-se nessa luta. Resolvido isso, talvez sobrasse algum oxigênio para que a esquerda, afinal, consiga pensar em outras lutas.

Os gays e lésbicas brancos compararem sua luta à luta pelos direitos civis dos negros é como Gates comparar seu caso ao de Wole Soyinka. Além do mais, Barbara Smith conta que, quando tentou participar da Parada Gay do Milênio até Washington, os líderes a mandaram cair fora; estavam empenhados em mostrar aos EUA heterossexuais e brancos que "somos iguais a vocês" (brancos, pois).Será que o Gates de antes do final dos anos 80 ressuscitará agora, como resultado do que Toure, comentarista da MSNBC e da CNN chamou de "brado de alerta de Gates"? (É o mesmo Toure, brilhante ficcionista, que acaba de publicar um manifesto pós-racial no The New York Times Book Review, no qual chama os ativistas negros mais velhos de "esse punhado de 'Jesses'".)

A Panopticon Review fala do "oportunismo" de Gates. Será que conseguirá não dizer o que disse depois da eleição de seu amigo, o presidente 'amor & linha-dura' Barack Obama? Gates disse que duvidava muito de que a eleição faria os negros pararem de consumir drogas e fazer filhos de mães solteiras. É possível que as coisas sejam mais complicadas do que golpes da tática do 'amor e linha-dura' que visam a obter patrocínios e seduzir padrinhos? Será que Gates alterará a linha conservadora pós-racial de seu blog (TheRoot.com, em http://www.theroot.com/), no portal do The Washington Post? Convidará Carl Dix e Askia Toure, que representam outras posições, tanto quanto Gates representa a posição de John McWhorter, ultra-direitista e porta voz do Manhattan Institute, além de negador da segregação racial? Continuará a dar entrevistas em programas como “Black In America” e “The Wire”, da CNN? (Como era de esperar, Anderson Cooper, da CNN, fez um carnaval, do caso Gates.) (...) A mídia segregada – o mesmo júri só de brancos dominando a discussão sobre raças, como sempre – deu ao policial de Cambridge o benefício da dúvida e os sindicatos de policiais o apoiaram. Os sindicatos de policiais sempre apóiam os policiais, também quando matam negros pelas costas, mesmo que estejam desarmados ou, como no caso de Papa Charles James, em San Francisco, mesmo que seja velho e esteja deitado na própria cama. Apoiam-se uns os outros e todos juram dizer a verdade nos tribunais e todos mentem nos tribunais. (...) O livro Betrayal: How Black Intellectuals Have Abandoned The Ideals Of The Civil Rights Era [Traição: como os intelectuais negros abandonaram os ideias da era dos direitos civis], de Houston A. Baker Jr., critica moderadamente Gates, West e outros intelectuais públicos negros que, segundo o autor, "deixam-se envolver, em virtude de sua ideologia racial transcendente.” Betrayal foi da gráfica diretamente para as bancas de liquidação. O Village Voice prometeu dois artigos de Thulani Davis, romancista, dramaturgo e poeta, de crítica autêntica a Gates, que nunca apareceram. Cartas com críticas a Gates, de um de seus principais críticos em Harvard, Dr. Martin Kilson, foram censuradas. Kilson refere-se a Gates como "mestre da arte de escapar de qualquer compromisso intelectual." Até a professora Melissa Harris-Lacewell, mesmo quando, no blog The Nation, desafiou o ciclo de 24 horas de noticiário que descrevera Gates como "crítico nacionalista negro" (ela chamou-o de "crítico nacionalista negro recentemente surgido"; para ela, Gates é "apolítico") –, teve de conter os golpes. Como intelectual, o pensamento de Lacewell tem mais profundidade que todos os "líderes da intelecção negra", como a mídia branca dominante e também a mídia branca progressista descrevem os pregadores pós-modernos capazes de viradas retóricas à velocidade da luz.Resta saber se Gates, que se autodefine como "empreendedor intelectual", aproveitará agora seu "brado de alerta" para liderar um movimento que denuncie as disparidades raciais dentro do sistema judicial. Um sistema podre até as entranhas, no qual os brancos cometem a imensa maioria dos crimes, mas as cadeias estão superlotadas de negros e hispânicos.

Um sistema prisional no qual tortura e estupro são rotina e no qual, em alguns estados, as condições em que vivem os presos são piores que as de Guantánamo. Os hospitais das prisões na California estão em tal estado, que foram declarados inconstitucionais, e a hospitalização naqueles hospitais foi considerada modalidade de tortura, contra a opinião do Procurador Geral Jerry Brown e de Arnold Schwarzenegger, que se alugaram aos ricos e, outro dia, estavam na televisão falando do "tratamento sério" que dispensam a esses problemas. Gates pode ajudar na luta para que os agentes da lei respeitem as minorias, em vez de nos chamarem de macaco e agirem como os policiais "gatilho feliz" de Marvin Gaye. Não são todos, mas são muitos. Ou Gates pode-se manter à margem.

Continuar nesse comportamento negro-privado, que dorme à frente da televisão ligada, é a raiz das barreiras que se erguem contra milhões de negros norte-americanos. Voltará ao rigor intelectual de seu heroi W.E.B Dubois, ou continuará a agir como o tipo Charles Van Doren de intelectual negro? Mestre de cerimônias. Entertainer. (Alguém de dentro do Sistema Público de Comunicação, PBS, contou-me que a rede está pedindo que Gates comprove, com melhores provas, o que disse sobre os ancestrais de várias celebridades.) Gates estaria pensando em fazer um documentário sobre segregação por perfil racial. Convido-o a documentar uma reunião dos moradores da área próxima ao ghetto onde vivo, em Oakland; uma vez por mês nos reunimos com os policiais que patrulham o ghetto. (A maior parte dos nossos problemas têm a ver com os filhos de duas famílias que moram aqui. Vendem armas para vários subúrbios. Vendem armas para gangues e líderes de gangues. No quarteirão onde moro, o líder de gangue é branco. É proprietário da casa onde também vendem crack.) Se quiser, Gates pode trazer Bill Cosby com ele. Descobrirão que os problemas dos cidadãos nas cidades dos EUA são muito mais complexos que "avós de 35 anos que vivem nas favelas" e cantores de RAP de calças largas e cintura baixa, exibindo cuecas; e que o racismo ainda é, nos EUA, nas palavras do grande romancista John A. Williams, "força inexorável". (...)Se Gates trocar de personagem, se desistir do personagem de "empreendedor intelectual", se resolver assumir papel na luta contra a discriminação racial contra os negros nos EUA, contra as invasões policiais, questões que jamais deixaram de atormentar os negros e só os negros, há séculos, então, sim, se poderá dizer: "Ok, Skip; bem-vindo de volta ao lar."

O artigo original, em inglês, pode ser lido em:
http://www.counterpunch.org/reed07272009.html

NOTAS DE TRADUÇÃO

[1] Ishmael Scott Reed, 1938. Poeta, ensaísta e romancista. Com Toni Morrison e Amiri Baraka, são os três mais conhecidos escritores afro-americanos de sua geração. Para saber mais, ver:
http://en.wikipedia.org/wiki/Ishmael_Reed
[2] Imagens em:
http://www.google.com.br/search?hl=pt-BR&q=Bobby+Soxers&meta=&aq=f&oq=
[3] Louis Farrakhan é o atual líder do grupo negro estadunidense "Nation of Islam", posto antes ocupado por Elijah Muhammad. Para saber mais, ver:
http://en.wikipedia.org/wiki/Louis_Farrakhan
[4] Para saber o que é, ver:
http://www.manhattan-institute.org/


Traduzido pelo coletivo POLÍTICA PARA TODOS, enviado à AAA - PressAA via Rede do Castor

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"Como modesto advogado, cidadão comum e branco, sinto-me discriminado e cada vez com menos espaço, nesta terra de castas e privilégios"(Ives Gandra da Silva Martins é renomado professor emérito das universidades Mackenzie e UNIFMU e da Escola de Comando e Estado do Exército e presidente do Conselho de Estudos Jurídicos da Federação do Comércio do Estado de São Paulo [E contra as cotas para negros nas universidades] ).

"Vá se roçar nas ostras" (PressAA)
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domingo, 26 de julho de 2009

E um Jabuti pra mim, companheiro?!



De...




...Para a AAA- PressAA, via Rede do Castor



UM PRÉMIO NOBEL PARA MRS. CLINTON

Reflexões do companheiro Fidel


O interminável documento que ontem foi lido pelo Nobel Oscar Arias é muito pior do que os 7 pontos da acta de rendição que propusera no dia 18 de julho.

Não se comunicava com a opinião internacional através do código Morse. Falava perante as cámaras de televisão que transmitiam a sua imagem e todos os pormenores do vulto humano, que soe ter tantas variáveis como as marcas digitais de uma pessoa. Qualquer uma intenção mentirosa pode ser descoberta com facilidade. Eu o observava cuidadosamente.

Entre os telespectadores, a grande maioria conhecia que em Honduras aconteceu um golpe de Estado. Através desse meio foi informado a respeito dos discursos pronunciados na OEA, na ONU, no SICA, na Cimeira dos Não Alinhados e em outros foros; tinham visto os atropelos, os abusos e a repressão ao povo em actividades que conseguiram reunir centenas de milhares de pessoas a protestar contra o golpe de Estado.

O mais esquisito é que, quando Arias expunha a sua nova proposta de paz, não delirava; acreditava naquilo que estava a dizer.

Embora muito poucos em Honduras pudessem ver as imagens, no resto do mundo muitas pessoas viram-no e também o tinham visto quando ele propôs os famosos 7 pontos em 18 de julho. Sabiam que o primeiro deles dizia textualmente: “A legítima restituição de José Manuel Zelaya Rosales na Presidência da República até ao fim do período constitucional pelo qual foi eleito…”

Todos desejavam saber o que diria ontem à tarde o mediador. O reconhecimento dos directos do Presidente Constitucional de Honduras, com as faculdades reduzidas quase a zero na primeira proposta, foi relegado para um sexto lugar no segundo projecto de Arias, onde nem sequer é empregada a frase “legitimar a restituição.”

Muitas pessoas honestas ficam espantadas e talvez atribuem a obscuras manobras dele o que disse ontem. Talvez eu seja um dos poucos no mundo que compreenda que havia uma auto-sugestão, mais do que uma intenção deliberada nas palavras do Nobel da Paz. Reparei nisso especialmente quando Arias, com especial ênfase e palavras entrecortadas pela emoção, falou da multidão de mensagens que Presidentes e líderes mundiais, comovidos pela sua iniciativa, lhe remeteram. É o que se passa pela sua cabeça; nem sequer percebe que outros Prémios Nobel da Paz, honestos e modestos, como Rigoberta Menchú e Adolfo Pérez Esquivel, ficam indignados pelo que aconteceu em Honduras.

Sem dúvida nenhuma grande parte dos governos civis da América Latina, os quais conheciam que Zelaya tinha aprovado o primeiro projecto de Arias e confiavam na cordura dos golpistas e dos seus aliados ianques, respiraram com alívio, que apenas durou 72 horas.

Visto de outro ângulo, e voltando às coisas que prevalecem no mundo real, onde o império dominante existe e quase 200 estados soberanos têm que lidar com todo o tipo de conflictos e interesses políticos, económicos, do meio ambiente, religiosos e outros, só falta algo para premiar a genial ideia ianque de pensar em Oscar Arias, para tratar de ganhar tempo, consolidar o golpe, e desmoralizar os organismos internacionais que apoiaram Zelaya.

No 30º Aniversário do Triunfo da Revolução Sandinista, Daniel Ortega a lembrar com amargura o papel de Arias no primeiro Acordo de Esquipulas, declarou perante uma enorme multidão de patriotas nicaragüenses: “Os ianques o conhecem bem, por isso o escolheram como mediador em Honduras”. Nesse mesmo comício, Rigoberta Menchú, de ascendência indígena, condenou o golpe.

Se simplesmente eram cumpridas as medidas acordadas na reunião de Ministros dos Negócios Estrangeiros em Washington, o golpe de Estado não teria podido sobreviver à resistência pacífica do povo hondurenho.

Agora os golpistas já estão a se movimentar nos sectores oligárquicos da América Latina, alguns dos quais, desde altas posições estatais, já não se ruborizam ao falarem das suas simpatias pelo golpe e o imperialismo pesca no rio remexido da América Latina. Exatamente o que os Estados Unidos desejavam com a iniciativa de paz, enquanto aceleravam as negociações para rodearem de bases militares a pátria de Bolívar.

É preciso sermos justos, e enquanto esperamos a última palavra do povo de Honduras, devemos demandar um Prémio Nobel para Mrs. Clinton.

Fidel Castro Ruz
23 de julho de 2009
14h30

http://www.cubanoticias.ain.cu/2009/0724REFLEXIONFIDEL.htm



[A rede castorphoto é uma rede independente tem perto de 33.000 correspondentes no Brasil e no exterior. Estão divididos em 20 operadores/repetidores e 170 distribuidores; não está vinculada a nenhum portal nem a nenhum blog ou sítio. Os operadores recolhem ou recebem material de diversos blogs, sítios, agências, jornais e revistas eletrônicos, articulistas e outras fontes no Brasil e no exterior para distribuição na rede]


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PressAA
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sábado, 25 de julho de 2009

Depois de décadas no bordel, o Brasil volta à literatura de cordel



A literatura popular do Nordeste conta história. Depois de nomes como Luís da Câmara Cascudo, Lampião, Frei Damião, Tancredo Neves, Getúlio Vargas e tantos outros estamparem livros com poemas de literatura de cordel, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganha espaço na segunda edição de uma obra que reúne cordéis sobre a história política do Brasil nos últimos 30 anos.

(...)

O cordel de volta ao povo

Para Crispiniano, o essencial do seu livro é o registro de toda uma mudança de mentalidade que houve no cordel. “Me perguntava sempre quando lia os cordéis mais antigos: se a poesia de cordel é popular, por que estar ao lado da elite? Então começamos pregando a mudança, o fim da ditadura, a reforma agrária, a anistia no formato dos folhetos.”

Os avanços, segundo ele, são inegáveis. “Antes a literatura de cordel abrigava um discurso mais elitista”, diz. “Depois de Patativa do Assaré, os poemas passaram a ser elaborados com uma força política maior. Isso aconteceu, acredito, devido à abertura política para a esquerda. Patativa é um ícone dessa época por desenvolver um discurso politizado pela esquerda, e minha geração vem a partir disso.”

Da redação, com agências

Leia reportagem completa no site

terça-feira, 21 de julho de 2009

Hugo Cortez no Observatório da Imprensa, imprensa, imprensa...


GOLPE EM HONDURAS

Um contra-senso ululante

Por Hugo Cortez em 14/7/2009


Na sua edição de domingo (5/7), o Jornal do Commercio do Recife, à página 22, dedicada ao episódio do golpe de Estado em Honduras, publicou matéria ("Uma reação ao modelo chavista") na qual transcreve declarações do professor José Flávio Saraiva, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB). Segundo este, o presidente constitucional de Honduras, Manoel Zelaya Rosales, teria tentado "realizar uma consulta popular sobre a possibilidade de reeleição", seguindo o que seria o figurino chavista, e por isso teria sofrido um impeachment. "Os partidos se alternavam no poder. Zelaya rompeu esse acordo e derrubaram ele", diz o nosso luminar brasiliense. Simples, não?

Em tempos de internet, com o Google, sites de jornais e revistas, bibliotecas virtuais e canais web de TV de todo o mundo à disposição, é inacreditável que alguém com a titulação do sr. Saraiva ouse expressar pelas páginas de um jornal tradicional tamanhos disparates. E que um jornal de importância os acolha desatentamente. Conforme os bem informados sabem, o presidente Zelaya queria realizar no domingo, 28 de junho, uma encuesta (equivalente ao francês enquête), ou seja, uma consulta de opinião sobre se o povo hondurenho concordava em nas próximas eleições (a se realizarem em novembro) ser adicionada uma quarta urna ao escrutínio (as outras três urnas se destinariam às votações para presidente da República, deputados e prefeitos) para que os eleitores expressassem, então, se estavam a favor ou contra a elaboração de uma nova Constituição que viesse a substituir a vigente, datada de 1982. Só isto!

Argumento sem sentido

Nenhum processo que vinculasse resultado a remendo constitucional. Se a consulta resultasse na aprovação da idéia da nova urna, aí, sim, é que se faria um referendo sobre uma nova carta magna, cabendo ao povo decidir soberanamente sobre o assunto. E se o referendo resultasse na aprovação da idéia da elaboração de uma nova carta, em seqüência os órgãos do poder estatal providenciariam a implantação de medidas que viabilizassem a concretização da vontade popular. Nada fora dos limites legais, como querem fazer crer os golpistas. Ou um presidente de uma República democrática não pode escutar o seu povo?

Obviamente, a consulta promovida pelo governo legitimamente eleito significava uma medida de "pressão" sobre as forças da estagnação, no sentido de enfraquecer-lhes a resistência à necessária, do ponto de vista popular, ampliação dos mecanismos participativos na vida política e social hondurenha, de maneira a romper o círculo de ferro do autoritário domínio oligárquico vigente naquele país. Isto foi o que importou, realmente. E a isto as oligarquias nacionais reagiram com rudeza e virulência. Até porque elas já estavam afastadas do presidente, que vinha descolando o país da órbita imperial norte-americana e aproximando-o dos governos progressistas da América Latina, inclusive incorporando-o à Aliança Bolivariana das Américas (Alba). Faltava só uma justificativa para o golpe.

Se a Constituição em vigor interdita a reeleição do presidente em exercício e se a eleição do novo presidente da República e a consulta pela quarta urna seriam feitas no mesmo dia, como Zelaya poderia estar tentando a reeleição, ou seja, a renovação imediata do seu mandato? Levantar este tipo de argumento equivale a intitular de círculo um quadrado, um contra-senso ululante! Mas o sr. Saraiva, escudado na sua titulação e no seu cargo, parece disposto a isto.

Exigida recondução de Zelaya

Quem ler os sites dos principais jornais hondurenhos (ver, por exemplo, La Tribuna e El Heraldo), poderá constatar que esta história de Zelaya tentar a reeleição é meramente um argumento utilizado por seus opositores para justificar o golpe de Estado. Mesmo assim, sem muita insistência, pois sabem-no sem substância. Não tem cabimento lógico no real e, na verdade, repercute um bordão cunhado nos últimos tempos na central de propaganda das forças políticas conservadoras e reacionárias em nosso continente que consiste em sistematicamente acusar os governos progressistas de buscarem a perpetuação no poder. Bordão que, aliás, já foi utilizado em outros episódios golpistas em outros países, como no caso dos recentes conflitos sociais na Bolívia. Na falta de argumentos consideráveis, apela-se para a mistificação. Inacreditável é que alguns órgãos de comunicação e certos jornalistas políticos – até mesmo âncoras do noticiário televisivo – no restante da América Latina o avalizem ou, no mínimo, atribuam-lhe algum valor.

Mas quando se trata de um acadêmico, só dá para supor má-fé fundada numa distorção ideológica de direita, sempre avessa à verdade dos fatos, o que é corroborado pela concordância entusiasmada do mestre com o golpe, ao qual atribui o suave epíteto de impeachment. Veja-se, por exemplo, o pronunciamento sobre o assunto do deputado Jair Bolsonaro, porta-voz da extrema-direita brasileira, na Câmara dos Deputados no dia 07 de julho. Coincide com as idéias contidas nas declarações do sr. Saraiva ao JC. Resta perguntar ao ilustrado professor se na democracia liberal há três poderes independentes, em patamares de importância equivalentes, ou se um ou dois deles pode depor e nomear o presidente do terceiro poder, substituindo-se ao povo. Em quem repousa a soberania política numa democracia?

Em seu discurso na Assembléia Geral da ONU, transmitido on line, real time, por alguns canais web de TV, Zelaya esclareceu os fatos ocorridos em seu país com equilíbrio, serenidade e didatismo. Naquele foro, foi aprovado por unanimidade o repúdio ao golpe que o destituiu e exigida sua recondução ao cargo. A Assembléia da OEA fez o mesmo. A grande mídia e diversos sites e blogs alternativos de comunicação, sobretudo o América Latina em Movimento, em todo o mundo publicaram montanhas de matérias informativas e analíticas sobre o golpe de Estado hondurenho. Pena que o professor Saraiva de tudo isto tenha aproveitado quase nada. Prefere o papel de propagandista da reação golpista hondurenha.


http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=546JDB005


Assista ao programa Observatório da Imprensa na TV
nesta terça-feira, às 22h40, ao vivo pela TV Brasil e afiliadas,
pela Net canal 4 (São Paulo) e pelo site da TV Brasil.

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PressAA
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segunda-feira, 20 de julho de 2009

Urariano Mota, o que é isso, companheiro, nós fomos ou somos tudo isso?!

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UMA RARA ORQUÍDEA ROXA

Por Urariano Mota


Recife (PE) - Nos últimos dias, a sua presença voltou com uma força que eu não imaginava. Tornou-se impossível fugir da sua pessoa em cada linha ou leitura que eu fazia. Por isso lembro.

Rua Sete de Setembro, 197, Edifício Ouro. Na década de 70, era para lá que rumávamos. Entrávamos no edifício sem olhar para trás, rápido, como se ladrões fôssemos, como se fôssemos criminosos, como se já estivéssemos no Chile de Pinochet e ali penetrássemos para nos salvar em uma embaixada. Ali, no apartamento 52 do Edifício Ouro, uma mulher de estatura média, de olhos abrasantes, nos atendia.

“Advogada Mércia Albuquerque, presente”. Não eram essas as palavras, não era bem assim que ela nos vinha, mas era exatamente esse o ar, que a sua presença nos sugeria. “Descansem. Eu estou presente. Sim, eu conheço esses milicos. Essa canalha do DOPS eu já sei como age. Descansem, vocês estão em casa”. Não lembramos bem se essas eram as palavras, se algum dia ela assim se expressou, mas sentimos que do seu corpo frágil, agitado, andando pela sala do apartamento, sem se sentar, vinha a insinuação delas. “Tranqüilizem-se, se fizermos a denúncia, a vida dele está salva”. Elétrica, agitada, e no entanto nos dava uma grande calma.

Agora que ela não mais habita no Edifício Ouro, agora que seu corpo se acha definitivamente ausente, agora que superamos a ditadura, nesta altura em que ficou fácil ser democrata, ah, o factual, o seu currículo de advogada de perseguidos políticos, de presos torturados, tudo isso tende a se fundir em versões e esquecimento. Não sabemos se é sempre assim quando a gente se ausenta, mas de Mércia fica uma impressão íntima, uma forma de orquídea violeta que não sabemos de onde nem por que nos vem. Agora mesmo, enquanto digitamos estas mal traçadas, a voz de Bienvenido Granda nos chega insistente aos ouvidos, embora em torno só haja o tique-taque do relógio no silêncio da madrugada. “Egoísmo” é o bolero que nos chega, não sabemos por quê.

E no entanto sabemos a razão, ou pelo menos desconfiamos do porquê. A doutora Mércia Albuquerque era um ser passional. É isto o que a violeta roxa e Bienvenido nos querem dizer. Ela resolveu defender Gregório Bezerra porque o viu arrastado por uma corda ao pescoço em 1964, em Casa Forte. Ao se tornar advogada de Abelardo da Hora, acolheu os filhos desse artista em seu apartamento 52 do Edifício Ouro. Ao ser sequestrada por agentes do DOPS, foi atirada de volta na Rua da Guia, que, à época, era a última e mais miserável rua do bairro de putas do Recife antigo. Ali, ela recordaria depois, recebeu dinheiro e solidariedade de uma prostituta que atendia pelo nome de Biscuit. Defensora de radicais materialistas, de jovens socialistas ou de jovens simplesmente desesperados, sem saída, era, ela própria, católica, até meio mística, e nisso não via nada que fosse obstáculo à defesa daqueles “terroristas”, como os difamava a propaganda da ditadura militar.

Pois foi a esta mulher, tantas vezes presente nas aflições dos perseguidos políticos, que tanto perigo correu por defender “terroristas”, que presa 12 vezes sem culpa, sem inquérito, sem acusação formal, como de resto se continua a fazer com os pobres e miseráveis do Brasil, que conviveu com a destruição física e humana de militantes, e também com o heroísmo imenso desses torturados, pois foi a esta mulher que parecia ter flertado com a eternidade, porque tantas vezes esteve perto do fim e dele se safou e o pulou como acrobata, pois foi a esta mulher que a morte colheu numa mesa de operações! Em 29 de janeiro de 2003 a doutora Mércia foi ali, vítima de um câncer que lhe devastou o ovário. Ainda que esse câncer sintomático lhe tenha minado a vida, traiçoeira e silenciosamente, não foi bem essa infâmia que a matou. A causa mortis apontou parada cardíaca.

Para uma advogada passional, para uma mulher que lembrava a rara orquídea roxa, faz sentido uma morte assim, de parada no coração. A vida da gente é estúpida, é certo, mas ao fim sempre guarda algum sentido. Um sentido que não sabemos se conseguimos realizar, doutora, neste espaço curto, nessa lembrança curta de quem a viu uma vez, mas jamais esqueceu de que seus olhos queimavam na gente feito urtiga.

Urariano Mota é jornalista, escritor e hoje colabora para diversos portais internéticos, inclusive para esta AAA - PressAA

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domingo, 12 de julho de 2009

Raul Longo para MHZ e, por tabela, para quem está comendo moscas virtuais (ou não)

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Querida Maria Helena:

Estou te escrevendo com cópia para o Fernando, para conversarmos a três, pois acredito que os três temos a mesma percepção sobre esse personagem criado pela excrescência da ditadura militar imposta ao Brasil em 1964.

Mas antes de tudo, e o mais importante, é que, claro, temos consciência que não será pelo Sarney (muito menos por ele!) que haveremos de deixar de ser amigos, afinal nossos inimigos são comuns e entre eles está, sem dúvida, Sarney.

Sarney é nosso inimigo desde antes do golpe de 64, porque é integrante e ativo participante das oligarquias que vitimam nossa gente há 500 anos. Poderia, como outros, raros, mas me ocorre agora o Coronel Delmiro Gouveia como exemplo, ter provindo da elite e, assim mesmo, procurar promover mudanças de relações entre a elite e os interesses populares. O que não perdôo em Sarney ou qualquer outro, não é vir da elite, é permanecer na elite.

Teve, para promover mudanças, muito mais oportunidades do que Delmiro Gouveia que era apenas um comerciante e industrial. Sarney foi presidente do partido da ditadura, a ARENA e, como tal, tínhamos razão em considerá-lo nosso inimigo político, além de social.

Já li em algum lugar ou ouvi argumentar que Sarney representaria o lado moderado da direita que então se mantinha no poder. E que teria, como presidente da ARENA, colaborado bastante para a abertura política e no embate que havia dentro do governo da época entre a ala da linha dura, representada no exército pelo General Silvio Frota e no partido por ACM e Bornhausen.

Até podemos acreditar que isso realmente se dava, tanto que Sarney transfere-se para o PMDB, puxando os votos de alguns parlamentares arenistas para a eleição indireta de Tancredo Neves que, falecendo, deu oportunidade a Sarney para presidir o país. Mas, mesmo acreditando na moderação de Sarney pela queda da ditadura, não há sentido em o considerarmos um aliado. Não dá para considerá-lo aliado, pois o histórico de Sarney como governador do Maranhão e Amapá demonstra que, independentemente de sua (se é que houve) maior liberalidade nas relações com as classes populares, não pode ser comparado a Delmiro Gouveia ou se esperar alguma percepção medianamente social e muito menos de algum esforço socializante. Tanto assim que o Maranhão está na situação que está, por conseqüência do poderio dessa sarna sobre o estado, um dos mais profícuos em riquezas de todo o país.

Da Bahia ao Maranhão a miséria do nordeste não tem origem na seca, como sempre quiseram nos fazer crer e qualquer um que de fato conheça o nordeste um pouco mais do que como mero turista, tem obrigação de saber disso. Aliás, não precisa nem conhecer a região fartamente documentada pelos melhores interpretes da realidade do país.

Digo isso, embora tenha a impressão de que houve alguma boa intenção no plano Cruzado do Dilson Funaro quando Ministro de Sarney, apesar de ter sido um plano tanto eleitoreiro quanto o Plano Real que FHC diz ser de sua autoria. O Real foi um conserto do Cruzado praticado pelos mesmos autores, mas posso imaginar que algum sonho de amenizar o descalabro social brasileiro de amenizar houvesse naqueles jovens economistas da UNICAMP.

Foram alunos da Conceição Tavares, participaram, enquanto estudantes, de movimentos e partidos de esquerda. Zélia Cardoso, por exemplo, é da mesma turma e foi filiada ao PCdoB. Outros daqueles teóricos que conheci, eram descendentes de migrantes árabes que passaram maus bocados ao chegar no Brasil e, ao mesmo tempo, foi gente culta e que valorizava muito não apenas o conhecimento como o humanismo. Assim foram educados e, creio, ao desenvolverem o plano Astral da Argentina e o Cruzado de Sarney, muito provavelmente tenham mesmo imaginado uma possibilidade de conciliar os interesses das elites com as necessidades populares.

Claro que não tinha como dar certo! Mas penso que acreditaram sim, nessa possibilidade. A princípio, pelo menos, embora mais tarde certamente se compenetraram e assumiram a mera função eleitoreira de todos esses planos que inventaram, até o Real. Nenhum deu certo, mas a meu ver acabaram tendo a alma corrompida de vez por esse desastre de caráter megalômano que se apequena (mais que se abrevia) pela sigla FHC.

Não sou economista é-me difícil explicar o porque do Cruzado me parecer, desde o início, uma falácia, mas posso tentar um pouco pelo lado político, onde a história universal me demonstra que nenhum governo popular tem condições de se manter, seja no Brasil ou em qualquer outro país e parte do mundo, sem o apoio popular como força de reação às forças das elites ou sem a instauração de uma ditadura militar ou com apoio militar.

U.R.S.S., China e Cuba são exemplos de como os governos de esquerda abrem mão de seus discursos libertários em períodos de revolução, preferindo a instauração de ditaduras e sistemática repressão às forças anti-populares que são fortes e ativas em toda parte. E isso ocorre porque esses governos sabem que é muito difícil a manutenção do apoio popular, ao mesmo tempo permitindo-se a utilização dos tantos meios de promoção de insurreição de que dispõem as forças contrárias aos interesses populares.

Para exemplificar como a coisa funciona, imagine se Allende houvesse conseguido resistir derrotando Pinochet. O que faria? Aguardaria o surgimento de novo Pinochet ou implantaria um regime duro e repressivo às eventuais novas tentativas de golpe? No segundo caso, pronto: seria taxado de ditatorial. Ou seja: o caminho do século XX era ditadura ou ditadura. Ditadura de Allende ou ditadura de Pinochet. Ditadura de Vargas com Jango e Brizola, ou Ditadura Militar com Golbery, Médici, etc.

Hoje é fácil criticar Lula por não ser tão radical na defesa dos interesses populares quanto foi Fidel Castro, por exemplo. Mas é preciso considerar que para isso Lula teria de ter promovido uma revolução e instaurado uma ditadura, tal qual feito por Fidel.

Infelizmente, querida, temos de reconhecer que essa história de democracia é mera falácia e continuará sendo enquanto vivermos num sistema onde a elite e a direita detiver todos os meios e direitos de manipulação das massas, aos quais a esquerda e os defensores dos interesses populares não têm qualquer acesso sem o consentimento ou a alguma disponibilidade a esses meios detidos pela direita. Uma disponibilidade hipócrita, que apenas ocorre, dosadamente, para que a direita possa manter a falácia aparentando-se democrática.

Isso, afora o fato de que não é próprio nem convincente a esquerda, considerar o povo como massa. Povo é povo que tem de ser preservado em suas próprias forças de identificação, por maiores que sejam suas divergências. Tratou povo como massa, é engodo.

Até hoje os Marinhos alardeiam o comprometimento democrático da Globo, por manterem o Dias Gomes. Outro dia um velho companheiro tentou me convencer que a Folha foi democrática por que tinha o Cláudio Abramo, e que anti-democrática fora a Folha da Tarde. Ará cacete! Se ambas eram do mesmo Frias, Abramo só serviu de cavalo de tróia, presente de grego, engasga gato!

Então, querida Maria Helena, não podemos nos iludir quanto aos poderes da direita e da elite. São e sempre serão maiores que os nossos enquanto não tivermos capacidade de franca e significativa mobilização popular, ou não tivermos armas, ainda que detenhamos a presidência.

Não adianta gritarmos para o Lula o que ele já sabe sobre Sarney (e pode estar certa de que sabe). Quando nossos gritos, nas ruas, forem suficientemente altissonantes para convencer às forças das elites que não permitiremos que nenhuma manobra nos alije de Lula como nos alijaram de Jango Goulart, então Lula poderá dispensar essas alianças de tão alto risco como PMDB, PTB, PDT e outros P de merda para não usar palavrão pior.

Mas com forças armadas de tão lamentável histórico como as nossas, e com um povo tão omisso como o nosso, por mais O Cara para o Obama e o mundo que Lula seja, saberá que pode quebrar a cara se não seguir o conselho de Dona Ivone Lara: "Eu vim de lá pequininho e alguém me avisou pra pisar nesse chão devagarinho". E ele demonstrou plena consciência dessa realidade assim que eleito. Lembra-se da frase: "Todos podem errar. Menos eu." no discurso de posse.

Todas as atitudes de Lula, ainda que não temerosas como querem fazer crer alguns comentaristas, são perfeitamente conscientes dos amplos e profundos históricos poderes da direita e da elite. Não o fosse, já o teriam derrubado há muito tempo e só o tem de engolir por esta consciência de que a direita e a própria elite não tem poderes para se impor aos interesses de seus iguais, por mais alto cargo político que ocupe. E o exemplo disso é o próprio Sarney

Lembre-se do plano Cruzado do governo Sarney. Um plano eleitoreiro, baseado em princípios de direita, executado por economistas e presidente de direita e, ainda sim, não foi tolerado pela direita.

Não sei o quanto você acompanhou a evolução do plano Cruzado, mas vou te contar o que se deu comigo. Eu voltara à São Paulo já despreocupado com a repressão e pelas necessidades de minha mãe, doente. Mas não consegui me readaptar à cidade, ainda menos com os ambientes profissionais de minha atividade como redator jornalístico e de publicidade. Estava ficando psicótico e tive de me transferir para Ubatuba, há 4 horas de distância da capital, no litoral, divisa com o Rio de Janeiro. Na semana de minha mudança um amigo me apresenta à uma produtora de programas audio-visuais para a qual me iniciei como roteirista, trabalhando como autônomo. Havia trabalho, me chamavam, passavam as informações e desenvolvia o roteiro em casa, sem necessidade de convívio com a gente publicitária que tanto me agastava. Eram trabalhos esporádicos que mal me permitiam as despesas de moradia e minha subsistência cotidiana se baseava muito mais da pesca. A casa onde morava era de um amigo muito paciente que suportava os constantes atrasos do aluguel. E me valia também de um pequeno apartamento que comprara em São Paulo para ajudar minha ex-companheira, quando nos separamos. Ela saíra do país e eu podia alugar o apartamento, o que me ajudou com as despesas lá em Ubatuba.

Ocorre que o amigo proprietário da casa onde morava, precisou vendê-la. Coincidentemente vagou meu apartamento em São Paulo. E o que se me sugeriu pra sair daquela sinuca de bico, foi utilizar cooperativamente o pequeno apartamento localizado próximo ao centro para, com outros colegas, autônomos como eu, montássemos um estúdio que nos possibilitasse captar mais trabalhos. Estávamos na montagem desse estúdio quando é lançado o Plano Cruzado do Funaro. Pois o volume de trabalhos a nós repassados por aquela produtora que já atendíamos e outras que nos procuravam, repentinamente cresceu tanto que nunca conseguimos utilizar esse estúdio, por pura falta de condições de assumirmos mais compromissos.

Para você ter uma idéia, logo eu tive condições de comprar um terreno e quando fui iniciar a construção de qualquer coisa em que pudesse entrar para desocupar a casa pedida pelo amigo, não havia mão-de-obra disponível. Eu estava com dinheiro para comprar o material, mas não tinha tempo de construir por mim mesmo e não encontrava alguém desocupado, apesar de conhecer todos os pedreiros de meu bairro. Eu estava certo de que aquela situação era fictícia e a qualquer momento o plano cairia, e com receio da desvalorização do dinheiro que me entrava, acabei comprando outro terreno próximo àquele mesmo que já adquirira. Imaginava vender um deles, posteriormente, para construir uma casa, mas a urgência do proprietário onde alugava cresceu e, por sorte, tinha tanto trabalho que pude comprar uma casa pré-fabricada para a qual me mudei em 15 dias. Era a mais barata desse tipo de edificação que encontrei, mas era uma boa casa, bonitinha inclusive.

Veja que incrível: em 4 meses eu comprara 2 terrenos e uma casa, e não mais precisava pescar pra comer, até porque passava a maior parte do tempo em São Paulo ou no Rio de Janeiro, só indo à Ubatuba em um ou outro final de semana.

Era um plano de solução fictícia dos economistas contratados pelo Funaro e eleitoreiro do Sarney? Evidente que era! Mas não foi a realidade econômica ou social brasileira que o derrubou, provocando a queda do Funaro e a impopularidade do Sarney.

Vou contar como acompanhei a queda do Cruzado. Já estava morando na casa de madeira, pré-fabricada, quando a produtora me passa um trabalho para uma convenção de vendas da Natura. Fiz o roteiro e sugeri uma outra peça. Aprovaram tudo e gostaram tanto que pediram outras sugestões, além de roteiros para lançamentos de novos produtos. Não lembro quanto trabalhos no total, mas eram muitos, aproximadamente uma dezena e só com aquilo eu poderia ajeitar o que faltava para a casa de madeira, construir muro, colocar portão e outras melhorias.

Um final de semana me ligam direto da Natura pedindo uma reunião na segunda-feira. À noite, no noticiário de TV, acompanho uma mulher ruralista (não me espantaria se hoje confirmasse ter sido a Kátia Abreu) anunciando interrupção do abate e bloqueio de fornecimento de carne. Foi quando, pela primeira vez, vi a imagem de Ronaldo Caiado pela TV e acredito também ter sido a primeira em que ouvi falar da UDR.

Na segunda-feira, antes do embarque no ônibus, compro jornal e revista para a viagem de 4 horas até São Paulo. Na Veja, lembro bem, uma matéria elogia a atitude do gerente da MacDonnalds que, na sexta-feira anterior, ordenara o fechamento de todas as filiais no Brasil. Lembro exatamente dos detalhes do texto da reportagem, contando que o gerente, há pouco de mais ou menos um ano no Brasil, após ordenar a greve nas filiais da rede de lanchonete, embarcara em rumo à Angra dos Reis onde tomara de seu iate rumando para sua ilha particular. Não lembro o nome da Ilha, a marca do carro, nem as medidas em pés e a quantidade de velas do iate, mas não esqueço que foram descritos, pois foi exatamente aí que distingui a perspicácia do redator da matéria.

Reportando o susto do muito jovem gerente da rede de lanchonetes ao lhe ser anunciado, no domingo pela manhã, o telefonema do então Ministro da Indústria e Comércio, por imaginar alguma sanção governamental contra sua greve, ilegal porque nítido boicote e com clara participação em formação de quadrilha contra a economia nacional e ao revelar que o Ministro se dera ao trabalho da ligação num domingo pela manhã apenas para prometer e garantir a queda do Real e do Funaro; o redator da matéria cumpria com as intenções de seus patrões, donos e editores da Veja (note a sequência das datas. O ocorrido no dia anterior já era matéria central da revista posta nas bancas no dia seguinte), mas nos detalhes da pouca idade do tal gerente, no tempo de sua recém chegada ao Brasil, na marca do automóvel, nas características do iate e na descrição de sua ilha próxima à Ilha Grande, detectei no redator a intenção de esclarecer aos seus leitores como se forma a elite do país e quem é que de fato manda aqui.

Só para encerrar minha parte na história: a Natura não pôde lançar produto algum porque faltou matéria prima para fabricar a tampa da embalagem dos perfumes que poria no mercado. De cerca de 10 trabalhos que criei, apenas um foi produzido e só recebi por este, o que não era suficiente para o muro que nunca construí. Fiz apenas uma cerca viva e levei anos para conseguir fazer um portão.

O que mais interessa não é minha história, e sim o fato de que os produtos da Natura, assim como toda a indústria nacional parou em razão de um lobby muito poderoso no Brasil formado pelos produtores de matéria prima. A indústria nacional estava muito satisfeita com o real, pois vendiam como nunca e por isso faziam publicidade como nunca, mas os donos dos minerais, os agro-pecuaristas, os donos das matérias primas derrubaram Sarney e seu grupo do poder. Percebi então que dentro das elites e da direita há também um conflito. Situações desse tipo ocorrem em toda a América Latina e todo o mundo.

Mas só contei essa minha participação periférica, para que você dimensione o tamanho dessas forças contrárias aos interesses populares, e veja quão poderosa, perigosa e restritiva é aos seus próprios integrantes quando, por ventura, intentam qualquer medida que, em algum ponto, não atenda seus estritos interesses. Mas aí, peço que recorde outro momento em que o famigerado Sarney expressou uma verdade, quando da promulgação da Constituição. Lembra-se de ter dito que o país ficou ingovernável?

Podemos cogitar que os constituintes liderados por Ulisses Guimarães tenham procurado evitar o retorno dos atos constitucionais decididos pelos generais da ditadura, pois a partir daquela Constituinte presidente algum consegue governar sem o apoio da maioria do Congresso. Talvez tenham apenas se preocupado em manter consenso político nacional, mas também podemos cogitar ter resultado de mais uma manipulação para obrigar que os futuros presidentes, ainda que eleitos diretamente, governassem em acordo com os representantes que a elite sempre consegue eleger ao Congresso. Pois sempre o congresso foi formado por maioria de seus representantes, visto ser a única força com condições financeiras de eleger seus interesses. Daí que a democracia até hoje tem sido uma falácia.

Analisando os resultados das últimas eleições, se percebe o início de uma mudança que pode se aprofundar no próximo pleito quando, além de presidente e governadores, elegeremos também senadores e deputados federais. Mas não se engane não, Maria Helena. Está aí Honduras nos provando que a verdadeira força popular não está nas urnas. Venezuela nos provou que a verdadeira força popular está nas ruas. A multidão nas ruas.

Compare o histórico de Sarney, como representante da direita e da elite, ao de Lula como representante popular e da esquerda. Qual que você acha que teria mais capacidade de enfrentar as forças reacionárias e anti-populares desse país?

Aparentemente é o Sarney, claro. Mas na realidade ele não só perdeu para a própria no caso do Plano Cruzado, como também contra o Collor de Melo e, depois, para seus então aliados tucanos na disputa da filha pela presidência, quando ela ocupava o primeiro lugar nas pesquisas encobrindo totalmente o José Serra. E o que seus ex-aliados fizeram contra a filha não é muito diferente do que fizeram contra Dirceu, Genoíno, Delúbio, etc.

Há uma ilusão, Maria Helena, que nos é muito perigosa. O fato do Lula ser o presidente do Brasil não significa que ele ou sua sucessão estejam mais seguros do que estava Allende no Chile. Ou mais seguro do que estava Zelaya na presidência de Honduras.

Chavez está mais seguro em seu cargo do que Lula, porque na Venezuela a multidão se manifesta. Vai as ruas e repõem o presidente, mesmo que destituído. E ainda assim, porque lá a multidão contou com o apóio do exército. A multidão hondurenha também tem pedido a restituição do cargo ao Zelaya, mas não contam com o apoio do exército de seu país, mesmo contando com o apoio da OEA e da comunidade internacional.

Veja: não temos multidão que se mobilize e se manifeste. Não temos exército que nos apóie. E não é nosso propósito a instituição de uma ditadura. Como poderemos sobreviver a essa direita tão poderosa quanto no exemplo que te dei, contando um episódio da economia nacional liderada por um empresário como FUNARO e um representante da elite e da direita ditatorial como Sarney? Tão poderosa que logo depois desse descalabro que lhe relatei, elegeu descalabro ainda maior, e tivemos Collor de Melo. E apesar de todo o descalabro do Collor, elegeu e reelegeu algo tão pior como FHC.

Imagino, Maria Helena, que essa sua foto seja dos tempos a que se refere em que já protestava contra o Sarney, mas também imagino que você preserve muito dessa beleza aí da foto. Só que, se naquela época eu concordasse com você, não seria mera galantaria à sua beleza, pois também execrava o Sarney tanto quanto. Já hoje, por mais que queira concordar com você, não apenas por galanteria, mas por continuar execrando o Sarney, tenho de concordar com o Lula em procurar mantê-lo e até defendê-lo dos que o querem derrubar da presidência do Senado.

Sarney na presidência do Senado é preciso até para ser o saco de pancada da própria direita a quem ele sempre representou. De que partido se originam os que hoje o atacam, senão da própria ARENA que ele presidiu por tantos anos? São farinhas do mesmo saco, sem dúvida, mas preferível que esse saco caia sobre a cabeça de Sarney espargindo farelos por seus próprios ex-companheiros, do que se o atire sobre o Lula, a Petrobrás, o que seja de nosso, saindo-se como paladinos de uma justiça canhestra e hipócrita.

Todo o PMDB nada mais é do que o outro lado de uma mesma moeda inteiramente bichada, mas enquanto não tivermos mobilização popular que convença nossas forças armadas a definir um lado para evitar alguma reação a favor das elites, enquanto dependermos tão somente da boa projeção internacional conquistada pela pessoa e pelo governo Lula, enquanto tivermos de temer o Crime Organizado Internacional dos grandes capitais, os mesmos que promoveram o golpe de Honduras e são permanente ameaça a toda a América Latina e o mundo, principalmente como feras feridas pela crise mundial que eles próprios provocaram; precisaremos do PMDB e de Sarney para garantir a continuidade do que se fez nestes últimos 8 anos.

Lembre-se que o PMDB é um balaio de gato. O governador daqui de Sta. Catarina, por exemplo, ainda que PMDB desde o final da ditadura ou antes, é, em verdade um tucaníssimo atrelado ao Bornhausen, mal e mal contido pela direção do PMDB. Se Sarney perde a presidência do Senado, muito provavelmente se manterá no PMDB para manter as forças do Bornhausen dentro do partido nesse estado, reafirmando a força que o racista já tem no PMDB do Rio de Janeiro e de São Paulo. E certamente Bornhausen elegerá alguém pelo estado, para o Senado. Mas se Sarney permanece na presidência, conforme já até anunciado, Luís Henrique renuncia ao governo do estado no início de 2010 para se transferir ao PSDB como candidato daquele partido ao Senado. Muito provavelmente perderá e poderemos eleger um substituto para a Ideli.

Desde os primórdios da ditadura, e ainda como MDB, aquele partido sempre foi uma manobra dos oligarcas da direita, tanto quanto o era o PTB de Vargas, ainda hoje um partido de aluguel. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, o MDB era formado por uma maioria de pedrossianistas. Pedro Pedrossian, o cacique político do estado, era janguista do PTB. Cooptado pelo golpe de 64, transferiu-se para a ARENA, mas manteve seus cabos no MDB e dessa forma manipulou a política daquele estado durante toda a ditadura.

Impossível negar essa realidade Maria Helena. Infelizmente ela existe e precisamos estar atentos de que temos apenas 8 anos na direção desse país, em comparação aos 500 anos em que nossa população foi formada através de um condicionamento totalmente des-democratizante, subserviente e elitista. Uma história de senhores, e Sarney é um deles. Fazer coro aos que hoje o atacam, sendo tão senhores quanto ele, é, com diz o verso do Brecht que você nos envia, apoiar uma mudança de senhores que não nos interessa em nada.

O senado brasileiro é a casa do DEMO e os tucanos que por ali esvoaçam não tem bicos coloridos nem apropriados para comer frutos. Esse espécime adaptou-se a uma Teoria da Involução, desenvolvendo bicos e presas dilacerantes. Deixemos que façam seu repasto no fígado do Sarney, pois certamente anseiam pelo de outro Prometeu que realmente os incomoda. Para eles Sarney é apenas um obstáculo, mas enquanto o for, temos de reconhecer que pra alguma coisa Sarney está servindo à história do Brasil. À nossa história.

Perceba a manobra: derrubar Sarney será tomar o PMDB e instituir a CPI da Petrobrás sob suas diretrizes. Isso é dar a faca e o queijo na mão dos ratos DEMO/Tucanos. É dar a corda, o travessão e o banquinho pro suicida e ainda ficar incentivando: - Pula! Pula! O PMDB quer apenas manter sua sobrevivência política e para isso se aliam a nós, enquanto nos mantermos. Sarney só é nosso aliado por ter sido traído mais de uma vez por seus antigos companheiros. Apenas se esforça para que seu partido nos apóie, por vingança a essa traição repetida.

Se entregarmos Sarney aos bicos ávidos dos tucanos do DEMO, perdemos os poucos que confiam na aliança ao Lula para manter posições no próprio PMDB e todo o partido vai procurar aliança exatamente com a segunda força: FHC. E dentro em pouco também vão pedir o fim da nossa raça.

Não imagine que estejamos enganados com o PMDB. Acredito com muita certeza que Fernando Soares e Lula não estejam. Mas chegarmos até aqui para, às vésperas da consolidação do governo Lula através da eleição de sua sucessora, entregarmos o ouro para o bandido, apenas pela manutenção de nossa histórica posição anti-Sarney, é quase o mesmo que ter apoiado essa turma desde que Sarney lhes era aliado.

Se Sarney, hoje, nos serve como defesa à onça pintada, deixemos que a suçuarana a enfrente. Depois, depois de eleita nova bancada que, conforme tudo indica, nos será muito mais favorável do que a que forma esse parlamento contra a qual o governo Lula vem lutando todos esses anos, e que as mãozarronas já estiverem bem desgastadas das guerras entre si, aí sim. Mesmo jaguatiricas que somos, não poderão mais nos enfrentar com ou sem bigode. No Amazonas, no Araguaia, Tietê, Tocantins ou Itapecuru, a água quem vai beber somos nós!

Não imagino qual seja sua idade, querida, mas o que muito nos instruiu sobre política, aos de nossa geração, foram as fábulas dos Esopos, La Fontaine, e mesmo as adaptações das sabedorias indígenas, africanas, caboclas em histórias que nos demonstraram que teríamos de superar nossas insuficiências em forças, com a força de nossa sagacidade e paciência, que são as únicas armas que temos. Não podemos ser o cordeiro a discutir com os lobos, temos de ser o jaboti, o macaco, o Pedro Malazartes, o Mazzaropi, o Cantinflas.

Conhece a lenda da Boiúna? Pois então, amiga, o bicho é muito grande e precisamos saber usar de seu rabo para nos defendermos de sua cabeça. Precisamos, hoje, do Sarney e do PMDB, para que a boiúna morda o próprio rabo, como o Ouroboros dos egípcios, da Índia, dos druidas que nele tinham a boiúna, simbolizada por uma cobra mordendo o próprio rabo. Veja você que a sabedoria não é sábia apenas por ser antiga, mais é sábia por ser vasta e universal, comum a todas as gentes de nós todos humanos. A sabedoria do Lula não está no Lula, a sabedoria no Lula está na capacidade que ele tem de observar o povo, de aprender com o povo, e também observar e aprender como se comportam os inimigos do povo. Por aprender com os inimigos do povo, ainda hoje se mantém no poder. Por aprender com o povo ao qual pertence, é que o mundo e todos nós o reconhecemos O Cara.

Mas por falar em cara e mudando de assunto, com sua licença, que bonito olhar e beleza toda essa sua, não? O seu primeiro suspiro depois do click dessa foto, vale muito mais do que o dobro dos fios do bigode de Sarney contados 10 vezes.

Afê! E beijo grande em sua caboclice tão brasileira, como o que de fato nos orgulha e preenche de esperanças.


Raul Longo
pousopoesia@ig.com.br
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Ponta do Sambaqui, 2886
88.051-001 - Floripa/SC
Tel: (48) 3206-0047

Raul Longo é jornalista, escritor e colaborador da AAA - PressAA.

Foto ilustração extraída do blog O putzgrila - "Rock Garagem, o LP que virou história". http://radiowebputzgrila.blogspot.com/2009/05/rock-garagem-o-lp-que-virou-historia.html
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