terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Cirene Ferreira Alves, literatura com criticidade e engajamento social



Bruno Resende Ramos

A escritora mineira Cirene Ferreira Alves, membro da Academia de Letras de Viçosa (ALV), adota o pseudônimo Norah para compor narrativas ricas em descrições do comportamento humano e social. São pessoas do povo que apresentam alguma singularidade, tanto em aspectos psicológicos, comportamentais como na própria condição social. Com espírito engajado, aborda questões de contexto que determinam o destino de seus personagens. Desse modo, desperta no leitor a criticidade necessária para ver o mundo em suas nuances ideológicas e culturais.

Nas obras "Marciela", "Crepe da China" e "Tereza", por exemplo, por meio da ótica feminina, mostra o interior de mulheres e crianças em suas expectativas afetivo - emocionais, submetidas às estruturas marginalizantes do pensamento social vigente. Tanto na submissão do gênero, da raça, como na condição social e familiar, a escritora apresenta ao leitor os resultados do preconceito e da cultura social excludente na vida dos personagens, oportunizando, assim, grande reflexão. Os seus trabalhos são dignos de estudo. À grande cátedra literária brasileira obrigam-se o aproximar das questões que suas obras encerram, uma primeira análise do discurso que elas compõem e o reconhecer tributável de tamanho talento.

Produções como "Marciela" não disfarçam no lirismo comedido a grande sentença do preconceito e a mutilação social a que são acometidas mulheres em todo o Brasil, exploradas como objeto de consumo e do prazer sexual. Nelas, grandes narrativas que compõem um acervo de verdades da maior criticidade, embora reveladas com a sutileza de um discurso harmônico e suave.

Suas obras não omitem valores importantes nem abstêm da denúncia contra a marginalização do ser pelo puro conformismo e banalização morais.

A autora cede à nossa leitura por meio de seus livros "Saudades em dois tempos", "Páginas para serem lembradas" e, agora, na coletânea "Livre Pensar Literário" narrativas extraordinárias que melhor apresentam sua ótica engajada e conscientizadora. "Crepe da China" permite ao leitor saborear a tecitura cuidadosa e bem acabada de um discurso em que exalta a sensibilidade e a ilusão da infância das meninas brasileiras, realçando-lhes, no entanto, as privações da condição socioeconômica e afetiva. Nela, a realidade excludente a que são submetidas muitas crianças do nosso país. Lançando mão, de forma intencional, da omissão do nome, a autora (a protagonista é simplesmente "uma menina", assim denominada), mostra como se generaliza tal condição pelos rincões desse país, transcendendo do universo de identidade individual e assumindo um caráter unversal.

Na obra "Tereza", podemos vislumbrar a busca da essência na figura que se insere à margem das políticas públicas, despida de direitos e da mínima atenção da sociedade. O indivíduo se vê subjugado por questões de gênero, raça, afetiva e socioeconômica, num quadro que descreve minuciosamente tal condição. A autora veste-se de uma narradora onisciente para trazer do interior dos personagens verdades valiosas, riquezas escondidas aos trapos pelas mazelas que os acometem. Sutilmente, despe-os dessa carcaça rotuladora e evidencia a beleza que é parte comum a todos os gêneros, raças, credos e condições sociais.


Bruno Resende Ramos, coordenador do Projeto de Inclusão Literária Nova Coletânea, colabora com esta nossa Agência Assaz Atroz.


http://www.novacoletanea.blogspot.com

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PressAA

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Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Fernando,
Sou-lhe muito grato pelo apoio ao Projeto de Inclusão Literária da Nova Coletânea. Você é desses autores engajados que assumem a realidade do páis como um desafio à mudança. Tê-lo neste grupo de autores desde o primeiro semear literário é um grande privilégio.

Abraços, amigo