E O “HOMER SIMPSON”, COMO FICA?
Laerte Braga
Laerte Braga
GLOBO e RECORDE travam um duelo de baixarias que buscam sofisticar em torno da guerra pelo controle da audiência. E por audiência se entenda o “negócio”. Quem melhor vai vender a sua “mentira” para o que William Bonner, uma espécie de bispo global, chamou de Homer Simpson.
Não há diferenças entre uma e outra. A bem da verdade entre nenhuma das redes nacionais de tevê. Trabalham para os mesmos donos. Importante é vender o capitalismo lato senso, sem concessões, transformar o ser humano em mero consumidor. O caminho para isso é o definido por Bonner. Homer Simpson, que deixa de ser nome próprio para virar adjetivo. Qualidade de idiota com que o cidadão/telespectador é tratado.
Ao contrário do que ocorre em países ditos civilizados, Estados Unidos, Grã Bretanha e outros, o Brasil não dispõe de uma legislação que regule a comunicação eletrônica. Quando se tentou a GLOBO partiu para cima com tal voracidade que, a todos os governos, inclusive os do período da ditadura militar, faltou coragem para peitar a rede. O que era para ser um veículo de comunicação dos donos ganhou tal poder, cresceu de forma desmesurada e hoje a simples providência de mostrar tanto a GLOBO como a RECORDE que ambas são concessões de serviço público se transforma numa idéia impossível ou inimaginável, tamanha a força que têm.
Hélio Costa, ministro das Comunicações do governo atual, é preposto da GLOBO. Como prepostos foram os ministros anteriores.
Um dos mais poderosos instrumentos de comunicação deixa de cumprir seu papel de informar, educar, entreter, para mergulhar numa guerra em disputa de fiéis que se disponham a ficar estáticos ouvindo e repetindo as “verdades” de cada quadrilha. Fiéis sim, a GLOBO não busca outra coisa diferente do que a RECORDE.
Os incautos, os ludibriados
Em toda essa guerra a RECORDE levantou a história da GLOBO, seus vínculos com a ditadura militar, sua origem no capital estrangeiro (em franco desrespeito à lei, mas ao sabor dos ditadores que viriam a seguir), seu silêncio na campanha das diretas já, no processo de impedimento de Collor, a fraude da PROCONSULT tentada nas eleições de 1982 contra Leonel Brizola, os fatos principais, maiores, mas nem de longe toca na sua origem. Ou na origem de Edir, o Macedo, pivô de toda a confusão.
E tampouco no processo permanente e muito bem montado de idiotização do telespectador/brasileiro. Que não está só na desinformação do JORNAL NACIONAL, mas nas besteiras de Fausto Silva, no oba oba intragável de Luciano Hulk, em todo o complexo, digamos assim, de colonização do brasileiro.
Na década de 60, século passado, o governo dos Estados Unidos (a partir de John Kennedy) criou e pôs em prática um programa assistencialista chamado Aliança para o Progresso. Kennedy referia-se ao programa como uma espécie de plano Marshall. Esforços no pós guerra (1945) para reconstruir a Europa devastada pelos nazistas.
Não era nada disso. Toneladas de leite em pó distribuídas às populações pobres do Brasil e que segundo o extraordinário Josué de Castro traziam junto componentes esterilizadores (havia e há interesse em evitar o crescimento populacional do Brasil) e, pastores da igreja ligada a Billy Graham, um dos maiores expoentes do império norte-americano durante governos democratas e republicanos. O auge do pastor, que chegou a vir ao Brasil a convite de um pool de empresas e transmissão ao vivo da GLOBO, foi no governo Reagan.
A tarefa desses pastores era simples. Formar “quadros” religiosos no País (na América Latina como um todo, chegaram ao Chile primeiro) capazes de se contrapor a uma Igreja Católica então progressista e vivendo a Teologia da Libertação, a Igreja que emergiu do Concílio Vaticano II. Hoje o problema não existe. Os norte-americanos se meteram no Vaticano, elegeram João Paulo II e detêm o controle acionário de Roma com o gerente Bento XVI.
O fascínio exercido nos latino-americanos pela revolução cubana (a perspectiva de liberdade e construção de nações livres e soberanas), o crescimento de movimentos sociais no campo (Ligas Camponesas no Brasil), a organização nas cidades, UNE, surgiu no governo Goulart o primeiro embrião de central única de trabalhadores, o CGT (Comando Geral de Trabalhadores), todos esses fatores somados e aliados a uma Igreja Católica capaz de compreender que a luta armada resta como recurso para um povo quando esgotado todos os outros (Mater et Magistra), gerou esse monte de Edir, o Macedo, tanto quanto, um monte de GLOBOS pelos países da América Latina.
É possível que Bonner sinta-se uma espécie de cardeal in pectori, aquele que ninguém sabe que é, mas Wall Street sabe. E Bonner pelo que ele simboliza, só por isso. Quando esgotar a data de validade entra outro.
Quem for esmiuçar os fatos vai encontrar, por exemplo, discursos candentes de Carlos Lacerda (extrema-direita) contra a GLOBO em seus primórdios. De Amaral Neto que chegou a apresentar uma edição especial do programa NOITE DE GALA – um dos mais vistos à época – denunciando a forma como a GLOBO vinha se impondo. Foram enquadrados após o golpe.
Edir, o Macedo, é isso. A disputa é pelo chapéu cardinalício conferido pelo esquema FIESP/DASLU – tucano/democrata – no Brasil, com as bênçãos de Washington.
Para uma e para outra não importam os fatos, têm sentido as versões. Se, eventualmente, estiverem em campos opostos é por conta dessa disputa. Que não é uma disputa de essência.
GLOBO e RECORDE cheiram mal
Macedo chegou a ter sua prisão decretada nos Estados Unidos por várias práticas ilegais. Foi salvo por aquela personagem típica do país. O agente da CIA que se sobrepõe à lei em função dos “interesses nacionais”. Enquanto for capaz de defender esses “interesses” continua bispo.
A grande preocupação da GLOBO hoje é que o bispo não é nenhum bobalhão de meia tigela. Pelo contrário. Ganhou as concessões de tevê e tratou de montar uma rede com nível técnico capaz de disputar com a quadrilha Marinho. Ao contrário da BANDEIRANTES que decidiu permanecer uma rede paulista, ou o SBT, rede de um homem só.
As análises feitas por especialistas mostram que nos últimos anos a perda da média de audiência da GLOBO, vão levar a RECORDE a um ponto de empate e aí a verba para enganar e mentir aos brasileiros vai ser dividida. O sabão OMO não vai concentrar o grosso da publicidade na GLOBO. Vai ficando cada vez mais cara a manutenção de monopólios como no caso das transmissões do campeonato brasileiro de futebol e da copa do mundo. Isso a médio e longo prazos.
Ou de comprar eventos os mais variados para não exibir, mas evitar que a concorrência o faça. A GLOBO faz isso.
Esse é o xis da questão. E essa é aposta da GLOBO na eleição de José Serra, por exemplo. E já sai furada, pois tucanos têm se aproximado cada vez mais, ou tentado, de igrejas neopentecostais no País, exatamente por perceber que por trás da fé existe um projeto político claro e delineado e de extrema-direita.
O fiel nessa história, seja da GLOBO ou da RECORDE é só o trouxa. Foi o que Bonner quis dizer quando chamou o telespectador padrão do JORNAL NACIONAL (o da mentira) de Homer Simpson. Há um dado aí interessante. Ao citar um “herói” idiota de uma série norte-americana Bonner mostra que pensa como tal. Como norte-americano. Macedo já mora por lá.
E a série, anos a fio de sucesso, é crítica desse modelo.
Em Honduras o governo golpista financiado por grupos econômicos dos EUA, apoiado por militares norte-americanos, com a cumplicidade das elites ditas hondurenhas (ditas porque elites são apátridas), com o garçom Barak Obama olhando para o outro lado e fingindo que não vê a mesa da luta pela legalidade democrática, continua prendendo, torturando, estuprando mulheres, matando, impondo ao país um regime de terror, mas importante para GLOBO e RECORD é mostrar qual rede é mais bandida que a outra.
Quer dizer em Honduras. Se no Irã o presidente espirrar vão dizer que está espalhando o vírus da gripe suína.
Não tem mais nem menos, são iguais. Num país sério seriam advertidas, suspensas e até cassadas as concessões, mas aí já é demais. Imagine Gilmar Mendes analisando um pedido da GLOBO. A justiça não julgou até hoje o golpe que Roberto Marinho aplicou na compra da antiga RECORD em São Paulo. Vigarice pura, com direito a falsificar documentos, toda a sorte de trapaças.
Está faltando o Pedro Bial nessa briga para chamar alguém de “nossos heróis”. Ou a Míriam Leitão para dizer que o bispo Edir, o Macedo, é agente iraniano disfarçado. Ou um pastor desses para chutar o plim plim.
São farinha do mesmo saco.
Laerte Braga é jornalista, escritor, cineasta e, last but not least, colaborador da AAA - PressAA
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