sábado, 12 de dezembro de 2009

O primeiro punido


Por Rubem Fonseca Filho

Quarta feira, ato contra a corrupção.

Logo de manhã, minha família e eu, indignados e revoltados contra o maior escândalo político de toda a história do Distrito Federal, nos preparamos para pacificamente protestar contra o “suposto” roubo de dinheiro do povo. Fizemos cartazes e fomos todos à Praça do Buriti. Lá escutávamos dos oradores que organizaram o ato:

– O governador, as secretarias de governo, a Câmara Legislativa, o Tribunal de Justiça do DF, o Tribunal de Contas do DF, toda a esfera de poder do DF está dominada e contaminada pela corrupção.

Enquanto os discursos terminavam, todos os jovens, boa parte dos sindicalistas e cidadãos, abandonaram os oradores e decidiram paralisar o trânsito. Distribuíam panfletos e adesivos para os carros quando centenas de policiais, depois de muito empurra-empurra, reabriram o trânsito. Os manifestantes correram para o outro lado da pista e paralisaram novamente o trânsito. Aí foi a hora de a cavalaria intervir. Em posição de ataque, foram para cima dos que faziam o protesto, pisoteando e ferindo muitas pessoas. Em seguida vieram os policiais do Bope, lançando estrondosas bombas de gás lacrimogêneo e partindo para cima dos manifestantes, distribuindo fartamente cacetadas e chutes. A massa ali presente se dispersou pelo canteiro central.

Reuni minha família e disse:

– A corrupção ganhou a guerra contra os desarmados. Vamos embora.

Estávamos voltando para pegar o carro quando o meu filho mais velho, José Ricardo, se aproximou de um aglomerado de umas 10 pessoas, que questionavam os comandantes da operaçã o. Perguntavam o porquê de tanta violência e, em específico, estavam revoltadas com o pisoteio de uma mulher pela cavalaria. José Ricardo se manifestou:

— Ato covarde.

Um policial militar ensandecido voou para cima de José rasgando-lhe a camisa e esmurrando-o. Detalhe: o PM ensandecido é o coronel Silva Filho, comandante responsável pela tranquilidade durante o ato. Imobilizaram, algemaram e entregaram José a uma dúzia de policiais do Bope. A partir daí os atos de brutalidade, selvageria e humilhação se sucederam: socos, tapas, chutes, cacetadas, até ser jogado violentamente no camburão. Enquanto cidadãos e jornalistas filmavam a cena, policiais do Bope atiraram nos pés dos cinegrafistas para impedir o registro do covarde espancamento (vejam vídeo: http://vimeo.com/8087713). Já no camburão José escutou pelo rádio do carro da PM que o motorista era o sargento Cássio. José perguntou:

— Por que estou preso? Não agredi ninguém, não sou bandido, não sou corrupto.

Cássio:

— Cala a boca, moleque! Se eu te encontrar algum dia por aí, eu te assassino.

Com este episódio ficou bastante claro para mim que, no exercício de 24 anos de democracia, não conseguimos minimamente mudar a cultura da arbitrariedade, da brutalidade e da violência da nossa polícia. Uma cultura consolidada nos 21 anos de ditadura militar. É um sentimento altamente frustrante e desanimador.

Fomos informados que José tinha sido levado para a 2ªDP (Asa Norte) e fomos para lá. Como ali não estava, fomos para a 5ªDP (Setor Central), onde um policial civil consultou todas as delegacias e nada do meu filho. Entramos em pânico e acionamos senadores, deputados, instituições dos direitos humanos. José foi detido em torno das 13h e só apareceu na 5ª DP às 16h15. Ficou esse tempo todo algemado dentro de um camburão que fazia pequenos deslocamentos, sem água e sem alimento.

Encontrei meu filho dentro da delegacia, sem camisa e com dores. Com escoriações no pescoço, nas costas, nos braços e com dores na costela e na boca do estômago, devido aos socos sofridos. Mas ele estava de cabeça erguida e altivo. Relatou todos estes fatos em seu depoimento e olhou de frente e nos olhos de seus algozes, que estavam também na delegacia. Ao anoitecer saímos da 5ªDP e fomos para o IML e depois ao tribunal que julgaria as representações que José fez contra a violência que sofreu por parte da PM do Distrito Federal. Na representação foram anexados vídeos, fotos e depoimentos de várias testemunhas que presenciaram a brutalidade contra ele. Em torno da meia-noite o juiz entendeu que havia necessidade de ouvir melhor os policiais, pois seus depoimentos estavam muito sucintos, e determinou o retorno do processo à 5ª DP.

José Ricardo foi punido. Foi agredido violentamente e só depois foi dada a ordem de prisão. Aplicaram uma pena (ou tortura?) a ele: prisão em um camburão, abafado e quente, por mais de três horas. Ameaçaram-no de morte.

De todo o megaescândalo da corrupção no DF, só comparável ao “Fora Collor”, já temos o primeiro punido. Vamos aguardar com muita ansiedade o próximo a ser punido.

Rubem Fonseca Filho, pai de José Ricardo Fonseca


Fonte: Correio Braziliense - 12/12/2009


Vídeo: http://vimeo.com/8087713

http://orusso.blog.uol.com.br/







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quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

A blogueira Yoani e suas contradições


Frei Betto

O mundo soube que, a 7 de novembro último, a blogueira cubana Yoani Sánchez teria sido golpeada nas ruas de Havana. Segundo relato dela, “jogaram-me dentro de um carro... arranquei um papel que um deles levava e o levei à boca. Fui golpeada para devolver o documento. Dentro do carro estava Orlando (marido dela), imobilizado por uma chave de karatê... Golpearam-me nos rins e na cabeça para que eu devolvesse o papel... Nos largaram na rua... Uma mulher se aproximou: “O que aconteceu?” “Um sequestro”, respondi.

(www.desdecuba.com/generaciony)

Três dias depois do ocorrido nas ruas da Havana, Yoani Sánchez recebeu em sua casa a imprensa estrangeira. Fernando Ravsberg, da BBC, notou que, apesar de todas as torturas descritas por ela, “não havia hematomas, marcas ou cicatrizes” (BBC Mundo, 9/11/2009). O que foi confirmado pelas imagens da CNN. A France Press divulgou que ela “não foi ferida.”

Na entrevista à BBC, Yoani Sánchez declarou que as marcas e hematomas haviam desaparecido (em apenas 48 horas), exceto as das nádegas, “que lamentavelmente não posso mostrar”. Ora, por que, no mesmo dia do suposto sequestro, não mostrou por seu blog, repleto de fotos, as que afirmou ter em outras partes do corpo?

Havia divulgado que a agressão ocorreu à luz do dia, diante de um ponto de ônibus “cheio de gente.” Os correspondentes estrangeiros em Cuba não encontraram até hoje uma única testemunha. E o marido dela se recusou a falar à imprensa.

O suposto ataque à blogueira cubana mereceu mais destaque na mídia que uma centena de assassinatos, desaparecimentos e atos de violência da ditadura hondurenha de Roberto Micheletti, desde 27 de junho.

Yoani Sánchez nasceu em 1975, formou-se em filologia em 2000 e, dois anos depois, “diante do desencanto e a asfixia econômica em Cuba”, como registra no blog, mudou-se para a Suíça em companhia do filho Téo. Ali trabalhou em editoras e deu aulas de espanhol.

Em 2004, abandonou o paraíso suíço para retornar a Cuba, que qualifica de “imensa prisão com muros ideológicos”. Afirma que o fez por motivos familiares. Quem lê o blog fica estarrecido com o inferno cubano descrito por ela. Apesar disso, voltou.

Não poderia ter assegurado um futuro melhor ao filho na Suíça? Por que regressou contra a vontade da mãe? “Minha mãe se recusou a admitir que sua filha já não vivia na Suíça de leite e chocolate” (blog dela, 14/08/2007).

Na verdade, o caso de Yoani Sánchez não é isolado. Inúmeros cubanos exilados retornam ao país após se defrontarem com as dificuldades de adaptação ao estrangeiro, os preconceitos contra mulatos e negros, a barreira do idioma, a falta de empregos. Sabem que, apesar das dificuldades pelas quais o país atravessa, em Cuba haverão de ter casa, comida, educação e atenção médica gratuitas, e segurança, pois os índices de criminalidade ali são ínfimos comparados ao resto da América Latina.

O que Yoani Sánchez não revela em seu blog é que, na Suíça, implorou aos diplomatas cubanos o direito de retornar, pois não encontrara trabalho estável. E sabe que em Cuba ela pode dedicar tempo integral ao blog, pois é dos raros países do mundo em que desempregado não passa fome nem mora ao relento...

O curioso é que ela jamais exibiu em seu blog as crianças de rua que perambulam por Havana, os mendigos jogados nas calçadas, as famílias miseráveis debaixo dos viadutos... Nem ela nem os correspondentes estrangeiros, e nem mesmo os turistas que visitam a Ilha. Porque lá não existem.

Se há tanta falta de liberdade em Cuba, como Yoani Sánchez consegue, lá de dentro, emitir tamanhas críticas? Não se diz que em Cuba tudo é controlado, inclusive o acesso à internet?

Detalhe: o nicho Generación Y de Sánchez é altamente sofisticado, com entradas para Facebook e Twitter. Recebe 14 milhões de visitas por mês e está disponível em 18 idiomas! Nem o Departamento de Estado do EUA dispõe de tanta variedade linguística. Quem paga os tradutores no exterior? Quem financia o alto custo do fluxo de 14 milhões de acessos?

Yoani Sánchez tem todo o direito de criticar Cuba e o governo do seu país. Mas só os ingênuos acreditam que se trata de uma simples blogueira. Nem sequer é vítima da segurança ou da Justiça cubanas. Por isso, inventou a história das agressões. Insiste para que suas mentiras se tornem realidades.

A resistência de Cuba ao bloqueio usamericano, à queda da União Soviética, ao boicote de parte da mídia ocidental, incomoda, e muito. Sobretudo quando se sabe que voluntários cubanos estão em mais de 70 países atuando, sobretudo, como médicos e professores.

O capitalismo, que exclui 4 bilhões de seres humanos de seus benefícios básicos, não é mesmo capaz de suportar o fato de 11 milhões de habitantes de um país pobre viverem com dignidade e se sentirem espelhados no saudável e alegre Buena Vista Social Club.

Frei Betto é escritor, autor de “Calendário do Poder” (Rocco), entre outros livros.

Publicado em...

http://amaivos.uol.com.br/amaivos09/noticia/noticia.asp?cod_noticia=13867&cod_canal=53





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sábado, 5 de dezembro de 2009

FHC - Um bit bull com complexo de vira-lata


FHC: "NO BRASIL, TUDO FRACASSOU"

Paulo Henrique Amorim

Máximas e Mínimas 611

Agosto de 2007

. Reproduzimos a seguir alguns trechos da reportagem de João Moreira Salles sobre e com Fernando Henrique Cardoso, publicada na revista Piauí de agosto.

. O Conversa Afiada considera estarrecedoras algumas das declarações desse ex-presidente do Brasil.

. E encaminhou essas declarações ao presidente do PSDB, a dois candidatos do PSDB à Presidência da República (José Serra e Aécio Neves), a um ex-candidato do PSDB à Presidência (Geraldo Alckmin) e às lideranças do PSDB na Câmara e no Senado com a seguinte pergunta: o senhor concorda com essas afirmações do Presidente de Honra de seu partido, e que se diz “a única oposição” ?

Veja os melhores momentos de FHC, o Farol de Alexandria na Piauí:

“Que ninguém se engane: o Brasil é isso mesmo que está aí. A saúde melhorou, a educação melhorou e aos poucos a infra-estrutura se acertará. Mas não vai haver nenhum espetáculo de crescimento, nada que se compare à China ou à Índia. Continuaremos nessa falta de entusiasmo, nesse desânimo.”

“Quais são as instituições que dão coesão à sociedade ? Família, religião, partido, escola. No Brasil, tudo isso fracassou.”

“No meu governo universalizamos o acesso à escola, mas para quê ? O que se ensina ali é um desastre.”

“A única coisa que organiza o Brasil hoje é o mercado. E isso é um desastre.”

“A parada de 7 de setembro é uma palhaçada.”

“Parada militar no Brasil é pobre pra burro. Brasileiro não sabe marchar. Eles sambam ... A cada bandeira de regimento a gente tinha que levantar, era um senta levanta infindável. Em setembro venta muito em Brasília e o cabelo fica ao contrário.”

“Os americanos têm os founding fathers ... A França tem os ideais da Revolução. Eu disse para os homens de imaginação, para o Nizan Guanaes: olha, a imaginação do povo é igual à estrutura do mito do Lévi-Strauss, ou seja, é binária: existem o bem e o mal. Eu fui eleito Presidente da República porque fiz o bem – no caso, o real. O real já está aí, eu disse. Chega uma hora em que a força dele acaba. O que vamos oferecer no lugar ? Ninguém soube me dar essa resposta. Eu também não soube encontrá-la.”

“Essa coisa de ser brasileiro é quase uma obrigação.”

“O problema do Brasil não é nem o esfacelamento do Estado. É algo anterior: é a falta de cultura cívica.”

“Como eu ia dizendo, é bom ser brasileiro: ninguém dá bola.”
(Ao sobrevoar Little Rock, no Arkansas, terra de Bill Clinton) “Parece o Mato Grosso ...” disse com um muxoxo.(No aeroporto, ao sair da sala de espera dos viajantes de classe “econômica” e se dirigir para a sala reservada aos da classe “executiva”) “E eu sofrendo no meio do povo à toa.”
“Não acredito que o Lula tenha práticas de enriquecimento pessoal... O que há é que ele é um pouco leniente.”

“Já o Lula é o Macunaíma, o brasileiro sem caráter, que se acomoda.”

“O que houve não foi uma ruptura epistemológica no meu projeto intelectual, mas uma ruptura ontológica do mundo... No final da década de 80, não estávamos mais enfrentando teorias, mas a realidade. Olhamos o que existia e estava tudo em pedaços. Estávamos falidos. Fomos forçados a privatizar, não havia outro jeito.”

“Sou mesmo a única oposição, mas estou me lixando para o que o Lula faz. O problema é a continuidade do que foi feito.”

“ ... no Governo Sarney. Foi quando começou o loteamento dos cargos ... Com o PMDB, o que se loteou foi a máquina do Estado: ministérios, hospitais, todo tipo de órgão, até o mais insignificante, tudo. O Estado desapareceu, virou patrimônio dos políticos.”

. (Num discurso no Clube de Madri, de ex-presidentes) Passa então a rechear sua fala com a “coesão mecânica” e a “coesão orgânica de Durkheim (mais tarde no táxi: “é o bê-á-bá da sociologia. Olhei em volta, vi que não tinha nenhum sociólogo e mandei ver.”).

“Fiquei cliente do Harry Walker, o mesmo agente do Clinton. Em média me oferecem 40 mil dólares (por palestra); ele fica com 20%... Em Praga, uma vez, como éramos um grupo de palestrantes, não cheguei a falar nem vinte minutos – pagaram 60 mil dólares. O Clinton chega a ganhar 150 mil.”

“Em restaurantes em Buenos Aires sou aplaudido quando entro. É que eu traí os interesses da pátria, então eles me adoram.”! A neta Julia, de 18 anos, balança a cabeça: “Como é que ele diz essas barbaridades ...”

O Conversa Afiada encaminhou as declarações do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e a pergunta: "o senhor concorda com essas afirmações do Presidente de Honra de seu partido, e que se diz 'a única oposição' ?" às seguintes lideranças do PSDB:

Tasso Jereissati - presidente do PSDB
José Serra - governador de São Paulo e possível candidato do PSDB à Presidência da República
Aécio Neves - governador de Minas Gerais e possível candidato do PSDB à Presidência da República
Geraldo Alckmin - ex-candidato do PSDB à Presidência da República
Antonio Carlos Pannunzio - líder do PSDB na Câmara
Arthur Virgilio - líder do PSDB no Senado

Nesta terça-feira, dia 14, por sugestão do leitor Jota, o Conversa Afiada também encaminhou o comentário de Fernando Henrique Cardoso e a pergunta "o senhor concorda com essas afirmações do Presidente de Honra de seu partido, e que se diz 'a única oposição' ?" aos ex-comandantes do Exército nos oito anos do Governo de FHC. São eles:Zenildo Lucena - Ministro do Exército no 1º mandato de FHC (1995 a 1998)
Gleuber Vieira - Ministro do Exército no 2º mandato de FHC (1999 a 2002)

Aguardamos as respostas.


Nesta quinta-feira, dia 16, o Conversa Afiada voltou a cobrar as respostas à pergunta encaminhada às lideranças do PSDB e aos militares que chefiaram o Exército durante os oito anos do governo FHC.

O general Gleuber Vieira, Ministro do Exército no 2º mandato de FHC (1999 a 2002), respondeu: "não pretendo me manifestar publicamente sobre o assunto".
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Esta matéria foi postada no antigo site Conversa Afiada, tentamos acessá-la usando o link http://conversa-afiada.ig.com.br/materias/449001-449500/449100/449100_1.html, mas não conseguimos abrir a postagem.

Disponível em diversos blogs:

Blog do Augusto

http://augusto2901.blogspot.com/2007/08/fhc-no-brasil-tudo-fracassou.html

Rumores Alvissareiros

http://rumoresalv.blogspot.com/2007/08/fhc-brasil-tudo-fracassou.html

Entre outros.

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